terça-feira, 30 de dezembro de 2008

"Qualquer dia amigo a gente vai se encontrar..."


Hoje é um dia especial, último dia do ano. Dia de se reunir com a família e os amigos e esperar o começo de um novo ano.

Para minha família o dia de hoje é especial também por um outro motivo: era o aniversário de meu pai.

Fefas nos deixou em 01.10.2000, aos 61 anos.

Poderia ter vivido muito mais, mas escolheu dia-a-dia através de seus (maus) hábitos nos deixar assim tão cedo. A brevidade de sua passagem não se restringe apenas a sua pouca idade (quero viver muito mais que isso), mas sim pelo quanto ele ainda poderia ter nos ensinado.

Foram dolorosos 33 dias de agonia desde sua internação até sua morte. Durante esse período lutamos todos os minutos possíveis para superar aquele momento. Chegou o dia de respeitar a natureza e aceitar a ordem natural das coisas. Os médicos nos comunicaram da falência de seu sistema renal e só nos restava esperar o tempo passar. Dos três dias de prazo, não foram necessários nem dois dias para já não termos mais meu pai entre nós.

Precisei avisar meus filhos que o Vô não iria mais voltar, a sua moda cada um deles me proporcionou um momento inesquecível. O mais velho me abraçou dizendo que não queria que eu morresse também. Ele acabara de descobrir que os pais morrem. O mais novo, para supresa geral com a serenidade de um adulto, lembrou-me que o Vô já havia lutado demais e precisava descansar.

Nunca havia me deparado assim de forma tão crua com a morte. Desde os preparativos para o enterro (que providenciei ainda um dia antes de sua morte de fato), até descobrir que meu pai passara a condição de um corpo, fui submetido a uma imensa onda de dor. Dor da perda, da falta de direção, do medo. Como seria minha vida a partir de então, sem que não mais tivesse aquela referência tão importante em minha vida?

Não sou daqueles que crê que a morte absolve, ou mesmo apaga os erros e defeitos dos que partem. Sofri com meu pai as dores de alguém que tem que conviver com aa doenças do alcoolismo e do tabagismo friamente assinaladas em sua certidão de óbito.

Da mesma forma que sofri, fui amado de forma intensa e carinhosa. Foi com meu pai que aprendi a dizer te amo, a beijar os que amo sem pudor, a não ficar brigado, a sempre buscar o entendimento. Aprendi com ele como se deve tratar uma mulher, que um bouquet de flores é sempre uma boa forma de se demonstrar o amor, que não é necessária uma data especial para se presentear alguém que se quer bem. Aprendi que não se deve ter pudor com nossos sentimentos desde que eles sejam sinceros.

Sua tolerância, sua capacidade de buscar uma abordagem diferente da óbvia, sua resistência ao julgamento fácil, são fontes de inspiração que busco na tentativa de ser uma pessoa melhor.

Foi meu pai, auto-didata, que me ensinou amar a política e a democracia. Que me ensinou que mesmo aqueles que calam fazem política nem que seja por sua omissão.

Foi esse mesmo pai que tanto fiz sofrer quando saía de casa para os congressos estundantis, deixando nele a dúvida se eu voltaria ou não, são e salvo para casa. Por vezes em nossas discussões (ele apenas querendo me proteger) eu lhe disse:

- "Se sua geração arregou, nós não vamos arregar".

Mal sabia eu o quanto aquela geração havia lutado pela democracia que essa geração de hoje nem desconfia quantas vidas custou.

A morte de meu pai me fez perceber uma nova faceta da saudade: a física. Que falta me faz um abraço, uma passada de mão na cabeça, um beijo. Essa é uma saudade que não passa.

Precisei de anos para superar o luto da perda de meu pai, mas hoje passado o tempo percebo que aqueles que fazem diferença não morrem com sua partida física. Ao contrário disso, permanecem vivos através de seus valores que, ainda bem, insistem em povoar nossa memória.

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