domingo, 19 de julho de 2009

Volta logo...

Carta para meu filho Henrique, o Kike, por ocasião de sua viagem de intercâmbio ao Canadá, com retorno previsto para 01.02.2010
Nesse momento alguns quilômetros já nos separam. Separam? Talvez nos distanciar, nada é capaz de nos separar.

Começo a te escrever essa mensagem, ainda no sábado as vésperas de sua viagem, longa viagem, para a ponta de cima da América, para o belo e frio Canadá. Seis meses...

Será um teste e tanto. Para todos nós que ficaremos aqui te esperando, todos nós que tanto te amamos, mas também para você. Um desafio que certamente você irá vencer. Serão dias para não se esquecer jamais, como aqueles cinco dias de nossa viagem São Paulo, Miami, New York, com direito a show do Coldplay no Madison Square Garden, lembra?

Se para você o mundo já é pequeno frente sua ânsia de saber, o que se dirá então após essa experiência que certamente será um divisor de águas em sua vida?

Certamente virão dias de alegria pelas novas conquistas, amizades e experiência, assim como os momentos em que a saudade irá lhe mostrar o quão doída ela pode vir a ser. Nessas horas não se esqueça de onde você veio, teu lar, onde há um lugar que é só teu e que estaremos dia-a-dia esperando por seu retorno.

Acredito que devemos viver cada dia como se fosse o último (um dia será...), no seu caso então viva intensamente cada minuto dessa viagem. Aproveite todas as oportunidades, não perca um passeio, nem a oportunidade de conhecer novas pessoas, pois quem sabe uma ou mais delas poderão chegar em sua vida para ficar, quem sabe?

Se o Caio me fez maior, mais forte diante do desafio da vida, você me fez melhor.

A chegada do Caio despertou em mim um guerreiro ávido por proteger seus domínios, um caçador na busca do sustento de sua família, sua chegada despertou em mim a serenidade para buscar o caminho da sabedoria e do equilíbrio. Era preciso entender (ou ao menos tentar) mais profundamente a natureza das coisas, não fosse assim como ao menos saciar sua vontade de saber, seus questionamentos? Apontar caminhos não é uma tarefa fácil, ainda mais para um filho que filosofa:

- Pai: quanto mais a gente sabe, menos a gente acredita...

Foi quando perdi meu pai que pude ter a dimensão de sua grandeza meu filho. Ninguém ao meu redor foi capaz de me confortar tanto quanto você mesmo que com apenas seus sete aninhos naquela época.

Um dia um texto meu sobre paternidade serviu de convite da festa de dia dos Pais, meu texto havia tido como inspiração sua redação sobre o “Estojo: Um lugar muito especial. Moradia do lápis, capaz de escrever todos os sonhos, mas também da Dona Borracha que tudo podia apagar”... Só você, mesmo que com tão pouca idade, para escrever algo tão especial, talvez até mesmo além de sua compreensão. Que orgulho o meu por ser teu pai...

Diferente de você que, apesar de sua sensibilidade, é cético e contestador por natureza, acredito em Deus, uma força maior, difícil de descrever, mas ao qual te entrego nas mãos pedindo que te proteja de qualquer mal e que te traga (logo) de volta para mim.

Quando a gente menos esperar iremos estar juntos para aquele abraço de “Ursão”, afinal você é o filho dele.

Te amo.

P.S. Obrigado por me ensinar a gostar do Coldplay.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O "o que" e o "como".


Vivemos nossas vidas repetindo rotinas diárias.

Acordar, ir ao banheiro, escovar os dentes etc...

Eventualmente mudamos a rotina, tem o dia da academia, do futebol com os amigos e assim vamos vivendo nossas vidas, dia após dia, sem nos dar conta do quanto pequenas coisas, corriqueiras até, podem ser de fato bênçãos que nos passam desapercebidas.

Vinha vivendo dias difíceis em minha vida. Como empreendedor, vida pessoal e profissional acabam se misturando, sofrendo uma simbiose, virando uma coisa só, caminhando juntas a par e passo. Andava meio baqueado diante das dificuldades. Até mesmo para o esporte vinha faltando ânimo. Nada como uma boa dose de “imprevisto” para mexer com isso.

Era mais uma manhã de terça. Eu nem desconfiava, mas em minutos iria começar um novo e doloroso capítulo de minha vida.

Havia acordado, colocado minha roupa de tênis e descia até a quadra para fazer mais uma aula. Quantas ainda seriam necessárias para eu poder dizer que de fato jogo tênis pensei como sempre faço antes de cada aula.

- Fala Mestre! Gritei ao avistar meu professor.

Foram minhas últimas palavras antes de resvalar com a ponta do pé num pedaço de madeira e...

Minha lembrança mais exata é tentar levantar e perceber que meu braço direito não acompanhou meu corpo, ficando inerte rente ao chão. Meu braço fez um “L”. Ao contrário. Digno de um desses vídeos do Youtube, daqueles que a gente vira o rosto de paúra.

Não sei ao certo se primeiro gritei de dor e desmaiei depois, ou se primeiro desmaiei e comecei a gritar depois, nem sei bem ao certo se desmaiei. Gritar, eu gritei, disso lembro bem.

Dor.

Nunca havia sentido nada igual, nada que pudesse ao menos servir como base de comparação.

Com muito esforço tentei me manter acordado. Graças a Deus, Chips, meu amigo e professor, estava lá. Não fosse ele...

Pegamos uma ripa de madeira (eu segurando minha mão e o Chips meu cotovelo) e a colocamos debaixo do meu braço, fixando-a com uma faixa.

Maria a empregada e um senhor que trabalhava na obra, ambos em choque, ajudaram no que seus limites permitiram. Para todos fica minha gratidão pelo socorro prestado.

Coube a minha esposa a dolorosa tarefa de superar os quilômetros que separavam nossa casa do Hospital Albert Einstein. Cada balançada do carro, mínima que fosse, me causava ainda mais dor. Quase que desmaiei durante o trajeto.

Depois de minutos que pareceram horas finalmente chegamos ao hospital.

MORFINA!

Bendito seja quem inventou a droga do Deus do sono, Morfeu.

Raio X. Ressonância. Sala de cirurgia. Anestesia. Recuperação. Cotovelo no lugar.

Esperar.

Dois meses aproximadamente me separam do dia em que definitivamente saberei a extensão de meu acidente. Até lá é esperar meu organismo trabalhar e ver do que ele é capaz em minha recuperação.

Desde uma recuperação total sem necessidade de mais nenhuma intervenção (possível, mas pouco provável) até uma funilaria geral (reconstrução de ligamentos, artroscopia e correção de fratura) tudo é possível.

Não escolhi ter que passar por isso, assim como tantas outras situações que a vida nos impõe, mas como vou passar por esse processo só vai depender de mim. Eis um valioso ensinamento de Alcéa, a terapeuta, que carrego comigo.

Que Deus me ilumine e me dê forças. Esses dias desde então não tem sido fáceis, desde um simples abotoar de botão, até a higiene pessoal, tudo antes tão simples, agora se mostram tarefas árduas de serem superadas, mas...

Faltam 57 dias.

sábado, 4 de julho de 2009


Dias atrás recebi um torpedo de meu irmão: Michael Jackson morreu.


Incrédulo, fui pesquisar na Internet. Começaram a pipocar notícias confirmando a morte do astro pop.


Essa mesma incredulidade de que fui tomado parecia ser recorrente, era como se ninguém acreditasse que Michael Jackson pudesse morrer. Era como se de repente nos déssemos conta de sua fragilidade humana em contraposição com a divindade que aprendemos associar a imagem do astro.


Recentemente havia sido anunciado o retorno de MJ aos palcos numa série de 50 shows em Londres, seria a manobra para resgatar a carreira do astro que andava no ostracismo nos últimos tempos.


Ansiosos os fãs pelo mundo em minutos esgotaram os ingressos para a série de shows.


Acredito que muitos desses fãs nunca tiveram o privilégio de ver o astro em ação e essa seria uma oportunidade imperdível para constatar ao vivo do que o prodígio dos Jacksons Five era capaz.


Fui um dos privilegiados que assistiram ao show de Michael Jackson no Brasil. Um dia para não se esquecer. Uma produção como eu nunca havia visto antes. Aliás, eu não, o Brasil nunca presenciara algo daquela magnitude.


A abertura do show já pagava o ingresso e era a expressão mais fiel da relação de Michael com seus fãs. Em meio a uma explosão o astro surgia num salto como se fora um felino dando um bote. Imóvel o astro postava-se no centro do palco, permanecendo assim por infindáveis segundos, talvez minutos. Era como se aquela manobra tivesse por objetivo permitir que seus fãs ao mesmo tempo em que descarregavam a adrenalina da espera, admirassem o astro, ali imóvel como se fora uma imagem de si mesmo, uma imagem a ser cultuada, como numa liturgia religiosa. Mais que fãs, Michael arregimentou ao longo de sua carreira, seguidores com paixão fervorosa como aquela comum aos fanáticos religiosos.


Tudo parece já ter sido dito sobre Michael. Do menino que não teve infância tendo que se tornar um adulto precocemente ao adulto que como Peter Pan insistia em não querer crescer. Assim como sempre, mas mais que nunca, sua vida nesses últimos dias foi revirada nos mais íntimos detalhes. Seus filhos expostos. Suas mazelas iluminadas com a mórbida luz do “interesse público”.


Mesmo que ainda insepulto, o espólio de Michael Jackson já mobiliza exércitos que travarão uma sangrenta guerra. É a miséria humana em uma de suas mais puras formas.


No fim das contas se o frágil corpo de Michael Jackson não resistiu, se o corpo do astro sucumbiu pelas marcas que sua história de vida lhe impôs, o astro, agora um mito para sempre estará mais vivo do que nunca. Com sua morte física, Michael além de enfim poder descansar em paz, irá retomar o lugar que sempre foi seu, de um astro único e inigualável, que atravessou gerações e que certamente ainda irá conquistar muitos fãs.