segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O beija-flor e as flores da manhã.

Vivi um período de escuridão em minha vida.

A tristeza havia tomado conta do meu coração. Por vezes deixei até mesmo de me dar conta da minha maior fortuna pessoal: minha família.

Passei dias perdido dentro de mim mesmo. Depressão em estado bruto.

Se não tenho (nenhuma) saudade daqueles dias de trevas, a contrapartida disso é que hoje sou fruto de tudo o que vivi, especialmente das adversidades que me forjaram, me tornaram mais forte. De certa forma, creio que esse momento foi um divisor de águas em minha vida, consolidou em mim o que sou, sedimentou minhas convicções. Lutei e não me perdi.

Foi uma época de profundo questionamento de minha essência: o quão de fato eu era adequado para o mundo? Qual era meu espaço, num mundo, que aos meus olhos premiava aqueles que não tinham sensibilidade, que não pautavam sua conduta pelo respeito ao próximo, que se moviam por interesses menores.

Aquela dinâmica que parecia dominar o mundo e suas relações não era a minha e era como seu eu fosse um beija-flor num mundo feito para gaviões.

Foi nessa época que me deparei com o trabalho da cantora Vânia Abreu. De voz doce e sedutora, com canções lindas capazes de falarem fundo na alma, a arte dessa baiana tocou meu coração.

A beleza de suas canções fez com que eu visse que havia sim no mundo pessoas com capacidade de enxergar além do que seus olhos podem ver, capazes de não ceder a apelos fáceis, capazes de seguirem seu rumo, mesmo que para isso tenha que se pagar um elevado preço. O preço de ser especial, de não fazer parte da manada.

Com canções como As quatro estações, Dó de mim entre outras, Vânia me conquistou, trouxe um fecho de luz... me ajudou a sair do breu.

Anos se passaram.

Certo dia a notícia: Surgiu uma oportunidade e lá fui eu conhecer a Vânia pessoalmente após um de seus shows. Frio na barriga. Ainda mais doce do que eu pudesse imaginar Vânia foi de uma tremenda atenção. Como fã até que me comportei bem... Eu acho.

Enviar e receber e eis que recebo duas semanas atrás um email, era um convite e tanto: show de Vânia Abreu, no (lindo) Teatro Bradesco para gravação de seu primeiro DVD. Custei a acreditar. De pronto confirmei minha presença e comecei contar os dias. No dia e hora marcada (aliás, duas horas antes) lá estava eu com a Rô contando os minutos para o início do show.

Num show assim, que tem como finalidade a gravação de um DVD, são vários os momentos quando uma música precisa ser executada mais de uma vez... Maravilha... Teria ficado horas e horas, quantas fossem necessárias.

Não bastasse a qualidade de sua música, Vânia brindou os presentes com um gesto de enorme grandeza: um sincero pedido de desculpas.

No calor da gravação ao apresentar sua banda, Vânia apresentou Paulo Dáfilin, apenas como violinista da banda, quando na verdade além de responsável pelos arranjos e pela Direção Musical, Paulo é seu grande parceiro ao longo de sua carreira.

Com a humildade de poucos, bem poucos que se diga, Vânia contando com a compreensão de todos e pediu se era possível repetir a canção quando ela havia apresentado a banda para refazer essa apresentação de forma mais “adequada” a importância de seu parceiro. Gesto lindo, além do que ganhamos mais uma música de lambuja. Eu adorei: o gesto e o repeteco.

A contagem dos dias agora é para poder constatar o resultado daquela noite que vai ficar gravada em minha memória pelo resto dos meus dias.

Muito obrigado Vânia por sua atenção comigo quando de nosso encontro, por sua arte que tanto me encanta e que fez de minha vida ainda mais feliz!

Visite:

http://www.youtube.com/vaniaabreucantora

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Joga pedra na Geni – Capítulo II – O julgamento final.

De um lado uma aluna de gosto (ou ausência dele) mais que duvidoso, do outro um bando de selvagens, atiçados por uma minissaia mais provocante (parecia um show da Rita Cadilac no Carandiru) e imaginava-se que já teríamos aí os elementos necessários para a tragédia do episódio ocorrido na fundamentalista UNI(TALI)BAN, certo?


NÃO!!!


Assim como num anúncio das facas ginsu...


- Mas espere não é só isso!


Para surpresa de qualquer ser minimamente pensante lá vem a Direção (qual?) da dita universidade (assim com letra minúscula bem miudinha) e expulsa nossa Geni, ou Geisy como queiram, num "julgamento" de dar inveja a qualquer ditadurazinha de oitavo mundo.


Numa nota inclassificável, pelo menos quando se abre mão de usar um vocabulário chulo, a Direção (soa engraçado usar a expressão "Direção") defende a ação dos alunos.


Com dirigentes assim não é mesmo de se estranhar o comportamento, ou melhor, o mau, melhor ainda, o péssimo comportamento dos alunos envolvidos no episódio.


Num trecho a nota diz textualmente:


"Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar".


Defesa do ambiente escolar?


Se o que vimos era uma manifestação de defesa do ambiente escolar imaginem quando aqueles alunos (?) resolverem fazer bagunça... Sai de baixo.


A UNI(TALI)BAN apesar de instituição privada, deveria pautar suas ações pela defesa do interesse público de formar jovens.


Nesse sentido, deveriam aproveitar a oportunidade e dar para Geni um manual de bons modos e etiqueta no ambiente, dito, acadêmico. Advertências, suspensões e aí sim talvez como último recurso a expulsão. Aos alunos em geral a instituição deveria ministrar noções elementares de civilidade com ênfase a tolerância.


Mas se isso me parece tão óbvio, me pergunto: por que não o fizeram?


Óbvio, a UNIBAN não passa de uma instituição com foco unicamente mercantil, assim não há como resistir ao apelo de tentar transformar a vítima em ré, algo mais velho do que andar pra frente.


De novo numa atitude meramente mercadológica, ressentindo-se da péssima repercussão de sua "sentença", a instituição voltou atrás.


Tarde demais...







domingo, 1 de novembro de 2009

Joga pedra na Geni.


Navegava pela internet na semana passada quando me deparei com a seguinte manchete: “Aluna da Uniban ameaçada de estupro no campus por usar minissaia”.

Se a chamada da matéria já me parecia insana, bizarra, seu conteúdo era ainda pior.

Uma aluna teria sido ameçada de estupro por ter ido para a aula com uma minissaia provocante. Que não tenha sido de fato ameaçada de estupro, ok. Exagero da matéria? Ok!

Mas o que dizer da saída da aluna escoltada por policiais, num episódio que parou toda a universidade, nos brindando com cenas de selvageria e hipocrisia, um inacreditável linchamento moral? Inacreditável? Será mesmo?

Não escrevo para defender o bom gosto da moça, ou mesmo a ausência dele. Ok!

O ambiente acadêmico deveria ser freqüentado com trajes mais adequados? Ok! Que seja...

Uma questão apenas: o que teria de acadêmico um ambiente freqüentado por todo tipo de selvagem? Que me perdoem os habitantes das selvas pela comparação. Uma selva deve ser um ambiente bem mais harmonioso, definitivamente mais equilibrado e menos caótico do que o campus da UNIBAN ABC. Animais por animais, os selvagens são bem menos perigosos.

Há quem tenha se espantado pelo ocorrido ter se dado dentro de uma universidade: eu não!

Algum tempo atrás, num desses meus textos mundialmente lidos por umas três ou quatro pessoas, chamava a atenção para a apatia das organizações sociais no Brasil, em especial a UNE.

O episódio ocorrido nas depências da UNIBAN – ABC (guardem essa sigla), ilustra bem essa realidade. A agressão sofrida pela aluna nos mostra que a UNE é uma representante mais que legítima da classe estudantil brasileira. Ações como essa, o silêncio da UNE e dos alunos em geral, que não foram capazes de organizar um movimento contrário, nos dá bem uma dimensão do perfil médio do estudante brasileiro. Deve haver uma minoria contrária ao ocorrido, a manada porém...

Mas Geisy veio nos salvar, ela é a nossa Geni.

Na obra de Chico Buarque, a Ópera do Malandro, a prostitua Geni era agredida por todos, dizia assim o refrão:

Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni.

Por uma noite com Geni, o comandante do Zepelim que queria bombardear a cidade mudaria de idéia, aí o refrão passa a ser:

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Que a agressão sofrida por Geisy sirva para salvar nossos estudantes de sua ignorância e intolerância. Afinal eles são “o futuro da nação”;

Que sirva de exemplo de como não se deve agir diante do “diferente”;

Que usem toda essa capacidade de se indignar para quem sabe tentar melhorar o país;

Que usem sua liberdade de se expressar, não para agredir covardemente quem quer que seja, mas sim para protestar contra tantos desmandos que acontecem no Brasil.

Que ao menos se calem, pelo que vimos já será um grande avanço.