sábado, 14 de fevereiro de 2009

Das verdades absolutas e inatacáveis.


O Brasil em choque recebeu dias atrás a notícia de que uma advogada brasileira grávida de gêmeos havia sido atacada por neonazistas em Zurique, Suiça. Além de incontáveis marcas em seu corpo o ataque também teria deixado como seqüela a perda da gestação.

É natural que situações assim despertem comoção afinal uma violência dessa ordem contra uma mulher ainda por cima grávida... Pois é, a verdade parece não ser bem a que se imaginava. A verdade parece não ser aquela que nossos olhos viram nos noticiários. Talvez seja por isso que se diga que a justiça é (ou ao menos deveria ser) cega. Nem sempre o que se ve é a expressão da verdade.

Conclusivamente já se pode afirmar que não havia gestação em curso. A polícia local chama a atenção para o fato de que todos os ferimentos foram em partes do corpo que poderiam ter sido feitos pela própria (agora “suposta”) vítima. Mais: não existem ferimentos em seios e genitália, algo recorrente em casos como esse.

Da comunidade brasileira local à diplomacia brasileira, inclusive nosso presidente (ele não perderia uma chance dessas...), não faltaram manifestações de repúdio “ao covarde ataque”.

Não faltaram também os “patri(di)otas” de plantão com a velha argumentação de sempre: “ah...se é aqui no Brasil...” e tome aquela ladainha de complexo de inferioridade que aflora em situações assim.

É como se uma ocorrência de violência num país dito desenvolvido nos absolvesse de nossa responsabilidade pela guerra civil que vivemos nas cidades brasileiras. Seria mais ou menos uma linha de raciocínio que se basearia na lógica do “se eles podem que são ricos imagina só a gente que é tão pobrezinho”.

As conclusões foram as mais diversas. Seja no impacto da crise econômica no latente sentimento xenófobo que assombra a Europa, passando pela suposta má vontade da polícia com a pobre imigrante, ou mesmo um retrocesso na histórica imagem de neutralidade e desenvolvimento social da Suíça.

O fato é que parece que estamos diante de uma tragédia pessoal, restrita ao seu universo familiar.

Mesmo que o episódio venha a se confirmar como sendo algo próximo da primeira versão (algo cada vez menos provável), fica a lição que sempre deve haver uma saudável dúvida sobre toda situação antes de se fazer qualquer julgamento.

Mais uma vez a vida nos mostra que todo julgamento feito no calor da emoção tende invariavelmente ao equívoco.

Fazer um julgamento rápido, encontrar uma solução imediata é um erro comum na história do homem. Acredito que cada um de nós deve ter em seu microcosmo ao menos uma dúzia de exemplos daquilo que parecia ser, mas que não era.

Que se preparem todos aqueles que atacaram de forma generalizada os europeus e os suíços em especial por seu “preconceito” (como se essa generalização não fosse o maior dos preconceitos); que se prepare a diplomacia brasileira para contornar suas precipitadas declarações e atitudes e acima de tudo que nos preparemos todos, para tristes, testemunharmos por mais uma vez o quanto somos de fato subdesenvolvidos, ao menos em nossa capacidade de julgar.

Que esse triste episódio não nos permita esquecer o quanto é importante lembrar que uma situação sempre tem dois lados, que o contraditório é o único caminho possível para a justiça.

O óbvio é o mais perigoso dos caminhos.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bon Bini Aruba!


Amo viajar e aproveitei uns dias de férias para pegar mais um carimbo em meu passaporte. Nosso destino dessa vez foi uma ilha muito simpática no Caribe: Aruba.

Antigo território das Antilhas Holandesas, próxima da costa venezuelana, hoje Aruba é um território independente e membro do Reino da Holanda. Em outras palavras, Aruba está para o Reino da Holanda assim como o País de Gales está para a Grã-Bretanha.

O regime de governo é parlamentarista com um Primeiro-Ministro fruto da coalizão do Parlamento com seus 21 representantes. Aruba também tem um Governador que é o representante da Rainha da Holanda. A defesa do território arubiano fica a cargo das forças de defesa do reino holandês.

Oficialmente a língua de Aruba é o holandês, mas a língua do povo, a que se fala nas ruas é o Papiamento. Resultado da fusão do português, espanhol, holandês e inglês, o papiamento é uma língua linda de fantástica sonoridade. Existem muitos termos em português como bom dia, boa tarde e boa noite, mas não vá se animando: é impossível entender a língua. Uma curiosidade, o papiamento é a língua usada no Parque Hopi Hari. Aliás, basta prestar atenção no nome da língua para fazer uma associação direta: papiamento significa conversação. (veja no fim do texto o resultado da pesquisa no Wikkipédia)

Para quem vive numa cidade do tamanho de São Paulo é estranho pensar num país de extensão territorial tão mínima, divido em três distritos: Oranjested, capital com jeito de centro de cidade, Palm Beach zona de maior concentração de resorts e San Nicholas, onde fica a refinaria de Petróleo responsável ( junto com o turismo) por quase toda atividade econômica da ilha.

A população de Aruba é de aproximadamente 115.000 habitantes sendo 100.000 deles nativos. Números extra-oficiais apontam para um número entre 5.000 e 8.000 ilegais, muitos brasileiros.

Optei por Aruba entre outros motivos pelo preço. Quando fechei o pacote em setembro os preços (com o dólar ainda em paridade favorável) eram mais atrativos que passar o mesmo tempo num bom resort no nordeste. Não hesitei, só de não ter que ouvir axé, já estava valendo, podendo conhecer uma nova cultura, uma nova língua e outro povo, nem tinha o que pensar. Mas havia uma pedra no caminho.

Com a alta do dólar o custo de se manter lá esses dias tirou a vantagem financeira da viagem uma vez que não se faz uma modesta refeição por menos de US$ 30,00 por pessoa, que multiplicado por quatro... fez doer meu bolso. Ainda assim valeu a experiência.

Apesar de estarmos em temporada Aruba não estava lotada, ao contrário parecia até mesmo vazia. Aqui e acolá eram comuns os comentários sobre a crise global que atingiu em cheio o principal turista que visita Aruba: o americano. Outrora gastadores compulsivos, os americanos hesitam em gastar um mínimo dólar e fazem valer a expressão “all inclusive” aproveitando ao máximo os serviços dos hotéis. Aliás, para quem bebe uma dica, você pode beber a noite inteira de graça desde que esteja disposto a arriscar alguns dólares num mesa de poker num dos inúmeros cassinos de Aruba. Se for comedido a conta é capaz até de fechar e quem sabe com um pouco de sorte... Se não for o caso fica valendo pela brincadeira.

No quesito compras, apesar de alguns bons preços já que Aruba é “duty free” não existem muitas variedades, algumas lojas de marcas mais famosas, alguma coisa de eletrônicos, mas nada demais.

Em suma, você pode até fazer algumas boas compras e refeições em Aruba, mas lá é um lugar mesmo para curtir mar e praia onde a palavra de ordem é relaxar.

Para quem quiser gastar uns US$ 100,00 por triciclo (leva até duas pessoas) sugiro o passeio de três horas que passa pelos principais pontos naturais de Aruba, você vai curtir, ainda mais se como eu tiver excelentes companheiros de viagem.

Meus agradecimentos ao Caio e ao Kike, vocês dão sentido a minha vida e fizeram dessa viagem uma experiência ainda melhor. Ah... uma última dica...essa do Caio: se você está pensando em balada Aruba não parece ser o melhor dos destinos.

Nota:
A rota para Aruba foi via Colômbia, com conexão em Bogotá. As inúmeras barreiras no aeroporto de Bogotá nos lembram que a Colômbia ainda é, mesmo com o enfraquecimento das Farc, um país em guerra civil.

Papiamento

É uma língua crioula e é a principal língua falada nas ilhas caribenhas de Aruba, Curaçao e Bonaire.

O papiamento originou-se do pidgin português conhecido como Guene, por ser falado pelos escravos africanos (originários das zonas de Guiné-Bissau/Cabo Verde e São Tomé/Golfo da Guiné, entre outras) trazidos pelos holandeses para o trabalho na lavoura de cana-de-açúcar. Após a retomada de Cabo Verde por Portugal e a reconquista da Nova Holanda pelos patriotas brasileiros, alguns judeus sefarditas, portugueses de Cabo Verde e quase todos os do nordeste brasileiro foram para as antilhas holandesas, levando consigo o português. A linguagem judaico-portuguesa irá se misturar ao Guene dos escravos africanos, dando origem à primeira forma do papiamento, no século XVIII. Com a administração do império colonial holandês nas ilhas, a influência holandesa lega muitas palavras de seu idioma ao papiamento. No final do século XIX a influência do espanhol ocorre com o contato com os países vizinhos, especialmente a Venezuela.

O nome procede da palavra papiá, que significa 'conversar', derivada originalmente da palavra portuguesa papear. Origina-se igualmente deste verbo coloquial o nome do crioulo de base lusófona de Malaca, o papiá kristáng. O verbo papiâ ainda existe no crioulo cabo-verdiano, e significa falar.