terça-feira, 31 de agosto de 2010

Carta ao Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sou um brasileiro de 43 anos, casado, pais de dois filhos adolescentes, profissional do mercado financeiro desde 1986. Como secundarista militei no movimento estudantil no início dos anos 80.


Fui um privilegiado espectador de grandes mudanças ocorridas em nosso país, desde o fim da ditadura militar até a estabilização econômica, uma das inúmeras conquistas que o Brasil deve ao seu governo.

Sempre fui admirador de sua trajetória política.

Paulista de coração e carioca de nascimento, vi nascer (e agora morrer) o partido que um dia pretendeu ser o mais credenciado a conduzir nosso país.

Um sonho possível para que dispunha de nomes como Franco de Montoro e Mario Covas.

Sob sua condução nosso país atingiu uma nova posição no tabuleiro global. Com orgulho vimos um brasileiro falar para as principais nações do mundo.

O Brasil testemunhou a firmeza com que conduziu seu governo à luz da ética da responsabilidade, sem temer o inexorável ônus do exercício do poder e acima de tudo comprometido com sua missão de fazer de nosso país uma nação melhor e mais justa.

Leitura obrigatória para entender o Brasil
Li seu livro, A arte da política — A história que vivi, Editora Civilização Brasileira, 2006, o que apenas confirmou em mim uma convicção: o Brasil não merecia (ainda não merece, talvez nunca mereça) um homem público de sua envergadura. Minha esperança é que a história lhe faça a justiça que nem mesmo seu partido parece ser capaz.

Mais importante do que o PSDB ganhar as eleições seria preservar suas convicções, oferecê-las ao escrutínio popular como uma opção (a ser escolhida ou não) para a condução de nosso país.

O que se vê hoje, nem de longe, nem com toda tolerância política do mundo, aponta nessa direção. Ao contrário, o que se vê é um partido voltando-se para a direção da qual se distanciou para poder nascer, fazendo alianças que cada vez soam menos cabíveis, necessárias além de absolutamente comprometedoras.

Que se percam eleições, mas nunca a honradez.

O PSDB de hoje caracteriza-se por ser um partido onde as vaidades falam mais alto que o interesse comum, um partido sem rumo e estratégia. A escolha do vice da chapa é um exemplo claro dessa realidade, uma trapalhada quase que sem precedentes...

Acanhados e surpresos os simpatizantes do PSDB assistem no programa eleitoral José Serra ser associado ao Presidente Lula, enquanto seu nome e as conquistas de seus governos pouco são mencionadas na campanha.

É preciso resgatar a verdade histórica, lembrar ao povo brasileiro quem foi o líder que comandou as reformas que permitiram nosso país enfrentar a recente crise econômica de forma tão diferenciada em relação ao resto do mundo.

Se o governo de Lula tem méritos é preciso que ao menos o PSDB tenha a coragem para dizer que esses são fundamentalmente a preservação das conquistas obtidas durante seus governos, é preciso demonstrar a população brasileira que hoje colhemos frutos do que foi plantado durante sua gestão.

São as sementes que foram plantadas no passado que hoje vemos germinar.

No plano internacional é fácil constatar o quão importante foram seus governos.

Tomemos os EUA como exemplo.

No sistema financeiro foi com grande atraso com que o governo americano promoveu à custa do contribuinte o saneamento que seu governo promoveu através do engenhoso PROER, sem utilizar recursos públicos.

Isso precisa ser dito, precisa ser lembrado, é preciso mostrar ao povo brasileiro "que um bom telhado só se firma sobre uma casa que tenha uma sólida fundação".

Foi durante seus mandatos que nosso sistema financeiro alcançou à solidez que hoje nos diferencia das demais nações. O Brasil lhe deve isso e é necessário esse resgate histórico.

É preciso bradar a alto e bom som o precioso tempo perdido durante o atual governo sem que se tenha registrado avanço algum em questões fundamentais como reforma fiscal, previdenciária e política.

Como esperar mais do governo sem que haja oposição?

É preciso fazer OPOSIÇÃO!

Não se trata de ser apenas do contra, mas sim do exercício responsável da vigilância política permanente, algo essencial à democracia.

Numa corrida publicitária, onde há mais preocupação com formato do que com conteúdo, o PSDB parece ter vendido sua alma ao Diabo e deve ir se preparando para levar o calote.

Como alguém em sã consciência faz uma propaganda eleitoral com favela cenográfica?


Infelizmente nosso país dispõe de “excelentes” locações... Além de tremenda barbeiragem, o episódio demonstra o descolamento do partido com as mazelas do país.

Se a campanha se norteia como sendo a legítima postulante a sucessão de Lula em seu "modus operandi", como sendo a candidatura que vai dar “continuidade” ao atual governo, votemos todos então em Dilma já que é ela de fato a candidata oficial.

O PSDB abre mão de sua essência ao lutar com as armas do adversário, fica fadado assim não somente a derrota de uma batalha, mas a morte de sua causa de avançar na construção de um país mais eficiente, mais justo e com instituições cada vez mais sólidas.

Marina Silva através do noticiário rendeu-lhe mais crédito do que qualquer membro de seu partido nessa campanha, assim não me causaria espanto ver eleitores, que como num voto de protesto oposicionista, nela depositassem suas esperanças.

Não existe democracia sem uma oposição forte e nesse sentido o PT deu sua contribuição ao jogo democrático. Agora é a vez do PSDB fazer sua parte e ser de fato uma oposição combatente, apaixonada e acima de tudo defensora do que sua passagem pela Presidência da República representa para a História desse país.

Fica aqui a gratidão de alguém que viveu na pele e no bolso o quão a inflação pode ser devastadora para a economia de uma família humilde e o quão promissor pode ser um ambiente de estabilidade. Se meus filhos viverão num Brasil melhor que o meu, muito desse mérito é seu.

domingo, 22 de agosto de 2010

O preço do sucesso.

Certa vez vi uma entrevista  de Émerson Fittipalidi falando sobre a cultura americana de admiração pela prosperidade e sucesso.


Na mesma oportunidade o piloto comentava como  era diferente essa percepção em nosso país, em suma, suas palavras apontavam para como no Brasil o sucesso era algo visto com um viés negativo.


Emmo estava certo.


Talvez por nossa orientação majoritariamente cristã e com a percepção que o sofrimento purifica, o sucesso em terras tupiniquins é pecado capital.


A lógica reinante é que o mérito por si só não existe e o sucesso sempre, invariavelmente, é fruto de alguma desonestidade ou algo equivalente.


É como se num país de miseráveis o menor sinal de prosperidade fosse uma afronta e não algo a se admirar e até mesmo almejar.


Há quem acredite que devamos acabar com os ricos eu pessoalmente acho que seria melhor erradicar a pobreza.


jornalismo?
Nessa semana na revista Isto É o jornalista Leonardo Attuch assina a coluna “ O terno de Lula”.
Na coluna o jornalista traça uma relação entre o fato de Eike Batista ter arrematado por R$ 500.000,00 o terno da posse do Presidente Lula e tê-lo doado a Organizaão chefiada pela Primeira Dama Marisa Letícia com os financiamentos obtidos por suas empresas junto ao BNDES. (leia  http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/3_LEONARDO+ATTUCH ).
com ou sem franja...

Além de ponderar sobre a “volumosa franja” de Eike Batista (a quem interessaria tais ponderações?) numa séries de comentários inócuos (ao menos para aquele que imagino ser o leitor da Isto é), o colunista faz claras insinuações no sentido de apontar para algum tipo de benefício indevido para o empresário por parte do presidente do BNDES Luciano Coutinho.


“Eike Batista pagou R$ 500.000,00 por ele (o terno). Depois embolsou mais alguns milhões do generoso BNDES” diz textualmente a chamada da coluna.


Segundo Attuch, bastaria aplicar os recursos subsidiados pelo BNDES em títulos do governo federal para se apurar um significativo lucro fruto da diferença de taxas.


Acredito na sociedade de direito, onde existem premissas fundamentais e inegociáveis dentre as quais destaco a presunção da inocência.  


Até que se prove contrário Luciano Coutinho e Eike Batista (assim como eu e você) são cidadãos brasileiros honestos e merecedores do respeito de nossa sociedade. Se a percepção do jornalista é diferente dessa caberia a ele apresentar as provas em contrário, qualquer coisa diferente disso é leviandade e calúnia, devendo ser tratada como tal sejam pelos caluniados sejam pelos leitores da revista.


O BNDES é um órgão de fomento de atividade econômica, seu (importantíssimo) papel portanto é esse mesmo o de financiar atividades que possam ser geradoras de empregos e tributos. Nunca obtive recursos junto ao órgão mas como profissional do mercado financeiro o que é de meu conhecimento é que são absolutamente rigorosos os critérios de concessão de crédito.


Eike Batista é um dos homens mais ricos do mundo (US$ 30 BI), suas empresas empregam milhares de brasileiros e apresentaram significativa valorização num claro reconhecimento do mercado de seu sucesso, algo imperdoável no Brasil…


Não consigo imaginar como alguém com um mínimo de bom senso e compromisso com a verdade dos fatos posssa tentar traçar uma relação entre a doação feita por Eike Batista pessoa física e os financiamentos obtidos por empresas de capital aberto que são controladas pelo empresário.


A coluna me parece muito mais uma tentativa (talvez até bem sucedida) de “jogar para a torcida” com uma polêmica fabricada conseguindo assim um espaço que normalmente o jornalista não teria.  Seja o que for, uma coisa é certa: não se trata de jornalismo.


Os próprios números utilizados na coluna demonstram a fragilidade do argumento, pois demonstram a pequena relevância do montante dos empréstimos que não chegam a 10% do patrimônio pessoal do empresário.


O fato é que o sucesso de Eike parece ser imperdoável.


Eu não sei o quão melhor seria nosso país se tivéssemos mais Leonardos Attuch, mas não tenho dúvida alguma que o Brasil seria um país bem melhor se tivéssemos mais empreendedores com o sucesso de Eike Batista, com franja, sem, ou até mesmo careca.


Em tempo:


Não tenho simpatia (ou antipatia) alguma pela figura pessoal de Eike Batista (não tenho elementos para tal), muito menos procuração para fazer sua defesa (o que aliás não fiz, afinal não há do que defendê-lo).


Aliás o Mega-ultra-super-uber empresário, nem de longe desconfia da existência desse colunista mundialmente conhecido por algumas pessoas da vizinhança.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De Osvaldo Aranha à Lula: A decadência da diplomacia.


Em viagem a Nova Iorque, participava de uma visita guiada à sede das Nações Unidas quando nos foi apresentada a sala onde se realizam as Assembléias Gerais.

Perguntei a guia se ela sabia o motivo de todo ano ser o Brasil o país que fazia o discurso de abertura da Assembléia. Surpresa, ela me confessou que nem sabia desse fato.

Orgulhoso (e pretensioso também), expliquei que a primeira Assembléia das Nações Unidas em 1947, teve com seu primeiro orador o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, criando-se assim tradição que permanece até hoje.

Nosso diplomata foi figura importante no cenário mundial não somente durante a guerra (foi decisiva sua ação para que o Brasil apoiasse os Aliados), assim como no pós-guerra e na nova ordem mundial que daí se estabeleceu.

Em 1948, presidiu a segunda Assembléia Geral do órgão, coordenando as ações que culminaram com a criação do Estado de Israel.

As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial foram tamanhas que foi inexorável dentro de uma perspectiva histórica produzir um documento que falasse sobre aquilo que se entendia como sendo os inalienáveis direitos de uma pessoa por sua condição humana. Nascia assim a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Se por um lado o documento se demonstra utópico, por não tem força de lei, por se tratar de uma declaração, além de vislumbrar um ideal de justiça e paz, serve como norte nas relações internacionais além de referência pétrea daquilo que se pode ou não admitir num mundo que se pretende civilizado.

Foi enorme o legado de Osvaldo Aranha para a diplomacia brasileira.

Assim ao longo da história sempre ocupamos lugar de destaque, não somente por nossa liderança regional natural, não somente pela qualidade de nosso corpo diplomático de carreira, mas fundamentalmente por nossa vocação de nação plural e tolerante.

Nação de todas as cores, fruto da mais maravilhosa miscigenação o Brasil está (ou deveria) para o mundo como uma reserva de tolerância étnica, religiosa e de todas as formas possíveis de distinção que se possam aplicar as pessoas.

São inúmeros (quase que incontáveis) os tropeços do Governo Lula no campo da diplomacia.

Nos últimos capítulos vimos uma atrapalhada tentativa brasileira de se colocar na condição de interlocução junto ao isolado governo iraniano. Se essa ação não nos trouxe nenhum tipo de benefício, ao contrário nos colocou sob os holofotes mundiais numa perspectiva bastante questionável. Afinal, o Irã é um país que tem como chefe de governo alguém que contesta a veracidade do Holocausto, uma afronta a humanidade e a memória de milhões de vidas perdidas nos campos de concentração nazistas.

Diz a sabedoria popular: “me diga com quem andas que te direi quem és”.

Ao ter se colocado na condição de interlocução junto ao Irã, o governo brasileiro trouxe para si o ônus adicional de se posicionar a tudo aquilo que diz respeito a esse país, especialmente nos flagrantes desrespeitos aos direitos humanos.

Estarrecido, o mundo assiste incrédulo a possibilidade de que a iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani seja condenada a morrer apredejada. O motivo? Pouco importa.

Há que se perguntar haveria algum motivo ou mesmo falta tamanha que pudesse justificar tal atrocidade?

O pior crime que Sakineh tivesse cometido não daria ao governo iraniano tal direito.

Já que o Brasil se colocou na figura de seu presidente como um parceiro do Irã, nada mais natural que usar essa proximidade para interceder junto ao governo iraniano em defesa do direito à vida de Sakineh, certo?

Errado.

Num primeiro momento, após várias manifestações em cobrança, Lula fez um módico e acanhado pronunciamento num comício em Curitiba. Mais humanitário que político, em suas próprias palavras, Lula sugeriu que a pena fosse suspensa.

Lógico que o que se espera de um chefe de Estado é que esse aja como tal, assim foram inúmeras as críticas por uma fala mais formal de nosso presidente que se saiu com essas afirmações que dão bem a dimensão de nosso chefe de Estado:

- Sobre a questão dos direitos humanos no Irã, não conheço profundamente como funciona o país. Sei que cada país tem suas leis, Constituição, religião e nós, concordando ou não, precisamos aprender a respeitar o procedimento de cada país.

- Oferecemos asilo já que ela "está causando desconforto ao Irã".

Caro presidente respeito não se aprende, se conquista.

Eu nunca vou respeitar um governo que ignora um senso mínimo de civilidade, nunca aceitarei uma constituição ou lei que desrespeite o direito a vida e que ignore a condição humana que presume a igualdade entre homens sem nenhum tipo de distinção.

Aliás, sugiro ao nosso presidente rever suas amizades, uma vez que sua fala se quer mereceu mais do que uma lacônica nota do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã. Se o presidente iraniano não deu maior atenção à fala de Lula, muito menos seu ministro. Parece que para os iranianos Lula não é tão importante quanto imaginava ser...



Declaração Universal dos Direitos Humanos


Veja o vídeo da campanha em defesa do direito à vida de Sakineh