sábado, 13 de novembro de 2010

Tiririca Free!

Se a candidatura de Tiririca deu o que falar sua eleição então...

Durante o processo eleitoral levantou-se a possibilidade que Tiririca não fosse alfabetizado, não sendo assim elegível.

O registro da candidatura exige apenas uma declaração de próprio punho como forma de comprovar a alfabetização do candidato. Com as atenções voltadas para Tiririca surgiu então essa dúvida, mas e os demais eleitos todos são de fato alfabetizados?

Durante essa semana submeteram Tiririca a um inédito teste de alfabetização, do qual não se sabe bem ainda o resultado até por que “alfabetizado” é um termo que pode ganhar uma razoável dose de subjetividade, afinal entre ler e interpretar um texto existe um fosso colossal a ser transposto.

Tiririca Free!
Além da questão sobre ser ou não alfabetizado, recai sobre Tiririca a acusação de que teria cometido crime ao supostamente forjar uma declaração de próprio punho.

Esse episódio nos traz uma série de constatações e possíveis reflexões.

Quanto à autoridade eleitoral fica a dúvida: qual o motivo (já que é necessária alfabetização) dos candidatos não serem previamente submetidos a um teste padrão constatando previamente se são ou não aptos a se elegerem?

É verdade que o ENEM tem nos demonstrado que realizar exames em grande escala parece não ser nosso forte, mas ainda assim me parece ser o meio mais razoável e justo para essa questão.

Do Ministério Público, uma vez que contesta a veracidade da declaração de Tiririca, se espera um tratamento equitativo fazendo um levantamento generalizado de todos os candidatos eleitos ou não. Será que somente Tiririca burlou a declaração, se é que o fez?

Ora será que o mesmo Ministério Público é tão rigoroso com as “taxas de sucesso”, com os “recursos não contabilizados” ou mesmo com as recentes “inconsistências contábeis”?

A grande reflexão, porém não diz respeito aos procedimentos da autoridade eleitoral ou sobre a conduta do Ministério Público e sim para qual de fato é a vocação democrática de nossa sociedade.

Pau que bate em Chico tem que bater em Francisco, ou se aplica a lei a todos os candidatos, ou que se dê voz às urnas...

Ora, vexatória ou não, a eleição de Tiririca, antes de legal é legítima, é reflexo de nossa sociedade, de nossa desesperança, de nossa cidadania e educação (ou falta delas).

Impedir a posse de Tiririca é calar seus 1.350.820 eleitores, “abestados” ou não, eles merecem serem ouvidos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um país dividido.

Dilma Rouseff foi eleita a primeira presidente mulher do Brasil. Há quem veja nisso algo de histórico ou avanço de alguma ordem, não é meu caso.

Para mim pouco importa o gênero ou mesmo a orientação sexual de um governante, o que conta (ou ao menos deveria contar) é sua capacidade de gestão, orientação ideológica e biografia (ou ficha corrida dependendo do político).

Não votei em DiLLma, mas antes de tudo sou brasileiro e desejo a ela toda sorte do mundo. Vai precisar...

DiLLma herda um país que sai dividido das eleições. Dividido regional, intelectual e ideologicamente. Enquanto DiLLma venceu nas regiões Norte e Nordeste, Serra obteve melhores resultados no Centro-Oeste, Sul e Sudeste, a mesma relação se dá também entre os que tem um menor e maior nível de escolaridade respectivamente.


Semelhança ou coincidência? Clique e veja.


Com ânimos menos aflorados a presidente terá de fazer o país voltar a normalidade da disputa republicana. Não será uma tarefa simples.

Se no congresso DiLLma parece ter folgada base parlamentar, o eleitorado na esfera estadual está bem dividido pendendo para a oposição.

DiLLma foi eleita é verdade, mas para isso contou com um cabo eleitoral com mais de 80% de popularidade além da máquina governamental, assim seus 56% não chegam a ser grande mérito e não devem lhe render uma lua de mel muito longa. Vale lembrar que nas vezes que LuLLa foi eleito obteve mais de 60% dos votos.

O novo governo deverá manobrar com habilidade sua maioria. Um rolo compressor agora com a oposição aparentemente "machucada, arisca e ressuscitada" pode ser um tiro no pé.


Rolo compressor governista?
Durante os oito anos do governo LuLLa pouco se avançou em termos de reformas estruturais e as reformas fiscal, previdenciária e partidária não saíram do papel.

Tomara que eu esteja enganado, mas não vejo mudanças no horizonte. Reformas implicam em enfrentar privilégios o que definitivamente não tem sido o forte do PT no governo, pelo contrário...

Há quem pense que essa nova etapa do PT no poder deva ser mais noticiada nas manchetes políticas do que policiais. Será? Se com a mão de ferro de LuLLa (muito maior que o PT) não foi assim e brotaram aloprados, com DiLLma será diferente mesmo? Não creio e torço sinceramente para estar errado. Tomara...

Institucionalmente o avanço que essa eleição traz para o Brasil é que por um lado teremos um governante que com menos carisma irá ter que trabalhar mais e de outro lado o aparente ressurgimento da oposição no país. Já não era sem tempo...

domingo, 24 de outubro de 2010

Presidente, cabo eleitoral ou jagunço?

Nunca votei em Lula e mais do que nunca não me arrependo.

É indiscutível a beleza da trajetória de Lula, que saiu do sertão nordestino atingindo o mais alto posto da nação. Da mesma forma, não cabe questionamento sobre seu papel na luta contra a ditadura e sua fundamental importância no sindicalismo brasileiro.

Confesso que me emocionei quando Lula recebeu seu “diploma” de presidente. Sua comoção foi contagiante.

O carisma de Lula é de rara grandeza, porém a mim nunca pareceu ser maior que a virulência sectária de seu discurso.

No papel de líder sindical esse sectarismo, se não pode ser considerado ideal, é relativamente esperado, já no papel de chefe da nação é inadmissível.

Um presidente é eleito pela maioria, mas deve governar para todos.

Se a nação coloca suas feridas à mostra num processo eleitoral, eleito, cabe ao presidente reagrupar o país. Numa democracia pode haver maioria e minoria, mas nunca vencedores e vencidos, isso só cabe numa guerra.

Nunca votei em Lula, o original, não seria agora que votaria num inexpressivo genérico seu.

Respeito, defendo, lutaria se fosse preciso, pelo direito daqueles que mim discordam. Opiniões divergentes são imprescindíveis à democracia.

Chegamos ao ápice do processo eleitoral. Lula que até então havia de forma vexatória ignorado a lei, agora abandonou definitivamente a liturgia de seu cargo (nunca prezou mesmo), colocando-se, em suas próprias palavras, como cabo eleitoral.

Pura pretensão, Lula não chega a tanto. O presidente não chega a cabo eleitoral, está muito mais para um jagunço, chefe de bando.

Dias atrás José Serra foi impedido por militantes do PT de prosseguir numa caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro. Ânimos exaltados, empurra-empurra, culminaram com o arremesso de uma bobina de fita adesiva que atingiu a cabeça do candidato tucano.

Imaginei que o exercício de dois mandatos presidenciais tivessem minimamente lapidado algum senso diplomático e cívico em Lula. Ledo engano...

Deixando de lado o que se espera do chefe supremo de uma nação, apenas apostando no elementar, era de se esperar que o presidente se colocasse incondicionalmente crítico ao ocorrido, se não por convicção, ao menos por conveniência.

Um presidente com um senso mínimo de compostura com o cargo que exerce, poderia ter se saído com uma nota assim:

- “Lamento o ocorrido com o candidato José Serra. Vivemos um processo eleitoral, paixões se afloram, convicções políticas são debatidas, ainda assim não podemos admitir nenhum tipo de violência nesse processo, nem mesmo verbal, o que se dizer então de alguma ação de ordem física.

- O militante que atirou a bobina de fita adesiva, assim como o que atirou a bolinha de papel no candidato José Serra cometeram um erro grave e recebem minha mais veemente censura.

- Que esses gestos não sejam atribuídos a toda nossa militância, pois não é essa nossa vocação. Respeito o candidato José Serra, seu partido e principalmente seu eleitores, que antes de tudo são cidadãos do país que honrosamente presido”.

Ao contrário disso o que fez Lula?

Não bastasse não censurar a atitude violenta da militância presente naquele encontro pelas ruas do Rio, Lula ainda acusou José Serra de fraude. (veja a acusação de Lula.  http://bit.ly/bKvLjZ )

Entre admitir que um militante mais exaltado cometeu uma falta, ou acusar o candidato adversário, Lula não hesitou e acusou Serra. Isso mesmo, uma absurda inversão de valores, insano... (veja matéria no Jornal Nacional desmentindo Lula  http://bit.ly/9Vj3L8 )

Ao invés de atuar como chefe da nação, como uma reserva de autoridade moral, no papel de unificador, de fomentador de consenso, Lula jogou gasolina na fogueira.

Ao não admitir o erro cometido pelos militantes, colocando a culpa pelo imbróglio na conta do candidato adversário, Lula dá um aval velado ao constrangimento pelo qual passou Serra.

É possível, cabível até, que se critique José Serra por tentar tirar proveito eleitoral dessa passagem, mas isso não muda em absolutamente nada a gravidade do ocorrido e a equivocada posição da Presidência da República.

A democracia é um bem precioso, nos custou vidas, assim não podemos admitir que ninguém atente contra ela, nem mesmo com uma simples bolinha de papel.






sábado, 9 de outubro de 2010

Agnelli x Gabrielli (ou quanto pode custar ao trabalhador um governo de "trabalhadores")

Profissional do mercado de capitais brasileiro desde 1986 venho testemunhando a história de nosso país.

Como profissional vivenciei todos os planos econômicos, as crises pós-globalização, as privatizações, a crise cambial brasileira, apagão, atentado ao World Trade Center e a alternância do poder na jovem democracia brasileira. Tudo isso recheado por seis eleições presidenciais.

Dentre esses eventos as privatizações representaram um marco em especial para nosso mercado de capitais, assunto esse sempre presente em época de eleição.

Foi através do mercado de capitais que o governo brasileiro encontrou compradores para as empresas submetidas ao processo de privatização.

Lembro bem das manifestações “operárias” contrárias as privatizações, como da mesma forma das manobras de bastidores daqueles que temiam pela extinção de privilégios.

Após uma guerra de liminares, ufa, o Brasil se rendia ao óbvio: o real e devido papel do Estado na economia.

Vale do Rio Doce é um bom exemplo de como uma empresa pode ser bem mais útil à nação nas mãos da iniciativa privada ao invés de gerida pelo governo. Nesse caso cabe bem a máxima “o boi só engorda com o olho do dono”.

Não tenho aqui a pretensão de me estender em números, mas sim chamar a atenção para a ordem de grandeza dos eventos e a lição que eles no dão.

Vale do Rio Doce foi privatizada em 06.05.1997 recebendo o Tesouro Brasileiro pela venda de sua participação na empresa US$ 3,3 bi, valor insignificante se comparado aos resultados atuais da empresa.

Ainda hoje, existem inúmeros questionamentos sobre esse processo, todos redundando no, suposto, baixo valor apurado com a privatização.

Vale lembrar que o processo de privatização se deu através de edital de leilão público em bolsa de valores e ainda assim foram necessários recursos financiados pelo BNDES para viabilizar o processo.

É importante ressaltar que a participação do Tesouro Brasileiro na Vale do Rio Doce foi vendida para o melhor comprador credenciado a participar do leilão, ou seja, a alienação se deu pelo melhor preço possível naquele momento.

Minha opinião: se o governo brasileiro tivesse doado a Vale do Rio Doce para qualquer um que demonstrasse capacidade de gerir a empresa já teria sido excelente negócio.

Para quem não concorda sugiro que pesquise o quão mais a Vale do Rio Doce hoje emprega e arrecada impostos. A diferença dos números é astronômica.

Diferente de quando sob controle estatal, hoje são critérios de eficiência e meritocracia que orientam as ações da empresa, diferente de quando nas mãos do governo a empresa era um grande cabide de empregos além de foco de corrupção.

Obviamente vários fatores influenciam a valorização de mercado de uma empresa, mas mesmo que se levando isso em consideração a evolução comparativa entre Vale do Rio Doce e Petrobrás nos leva a inequívoca conclusão de que um governo de trabalhadores pode custar muito caro a um trabalhador que tenha resolvido poupar seu FGTS comprando ações de Petrobrás.

É possível que se argumente que Vale se beneficiou da elevação dos preços dos minérios enquanto Petrobrás foi penalizada pela queda nas cotações do petróleo, ainda assim a diferença dos números é gritante.


Agnelli x Gabrielli, eficiência e partidarização
Se por um lado a Vale é presidida por Roger Agnelli com foco na defesa do interesses dos acionistas da companhia, a Petrobrás em contrapartida é comandada pelo companheiro José Sérgio Gabrielli em profundo alinhamento com os interesses do governo em detrimento dos interesses dos demais acionistas.

Se Agnelli foi conduzido ao comando de Vale por sua trajetória de sucesso como executivo, Gabrielli, de origem acadêmica, hoje comanda a Petrobrás tendo como principal e inexorável qualificação sua filiação partidária.

As incertezas durante o recente processo de capitalização de Petrobrás, a pulverização da participação do minoritário no capital da empresa, associados ao temor de ingerência política na condução da companhia, tornou ainda mais evidente a disparidade da valorização das companhias.

O mercado está errado? Ok, o mercado erra, mas é soberano.

Se ao longo do tempo Vale vem se valorizando significativamente mais em relação à Petrobrás, em 2010 essa realidade não foi diferente.

Em agosto desse ano, portanto antes da capitalização de Petrobrás, Vale chegou a ter valor de mercado superior ao de Petrobrás até então detentora do título de maior empresa latino-americana.


Pelo fechamento do mercado em 08.10.2010, Petrobrás está com perda acumulada de 27,57% no ano, isso mesmo, quase um terço do valor da empresa, enquanto no mesmo período Vale do Rio Doce valoriza-se 13,01%, ante uma valorização do Ibovespa de 3,24%.

Números...quem pode com eles?
Comparativamente ao desempenho de Vale do Rio Doce, apenas nesse ano a gestão dos “trabalhadores” custou ao trabalhador brasileiro 56%.

Ainda assim, diante de fatos tão claros, há quem defenda uma maior participação do Estado na economia, há quem seja contra as privatizações. Se você for da turma “delles” tudo bem, caso contrário para ter seu Land Rover é melhor deixar seu dinheiro na mão de profissionais.

Obs: A Petrobrás é uma grande empresa, patrimônio do país, detentora de tecnologia de ponta e dispõe de um corpo técnico de qualidade incontestável, continua sendo uma excelente opção de investimento. A empresa é tão fantástica que vem heroicamente resistindo a todas as ingerências políticas das quais tem sido vítima.
















sábado, 2 de outubro de 2010

Obrigado Danilo!

Mas o que diabos enfim é humor? Deve ter limites ou não?

Existem vários tipos de humor, inteligente, pastelão e outros?

Não sou humorista (apesar de por vezes arrancar umas boas risadas em encontros com amigos), mas acredito que só exista um tipo de humor: o engraçado, aquele que te faz rir.

Censura Nunca Mais!

Nesse período de eleição por algum tempo tivemos um jejum de humor.

Algum dia, em algum lugar, alguém parece ter entendido que não seria “permitido ridicularizar os políticos”.

Aqui ó!

Imperou o bom senso (que por vezes não é nada humorado) e uma vez que viramos a página da censura na história de nosso país, voltamos a rir de nossa maior desgraça: a política.

“Nunca antes na história desse país” tivemos uma política tão pobre e podre. Sem ideologias, sem bandidos e mocinhos, apenas um raso vale-tudo pelo poder.

De um governo onde seus principais personagens jogaram suas biografias latrina abaixo, até uma oposição omissa e incompetente, vivemos uma pobreza política sem precedentes, mesmo para uma história já tão pobre quanto é a nossa.
Humor implacável

Ontem (01.01.2010), porém, por uma hora e meia me vinguei, lavei minha alma...

Politicamente Incorreto, foi o nome do “Show” (com “S” maiúsculo) de Danilo Gentilli transmitido pelo UOL. (http://migre.me/1sCj1)

Danilo tirou o atraso dos dias de censura dessa eleição.

Devastador, Gentilli não deixou pedra sobre pedra na política brasileira. Democrático, ninguém foi poupado de seu humor impiedoso.

De Sarney e os “excelentes” indicadores sociais do Maranhão, passando pelas alianças nada ideológicas do PT, pelos “hábitos” de Aécio, pela hipocondria de Serra, pela inconsistência de Dilma, todas as mazelas de nosso cenário político foram ridicularizadas com a maior acidez possível.


O poder custe o que custar.

Lula foi “esculachado” sem pudor algum.
Que delícia...
Se não agüento mais meu amargor pelo momento que vivemos, se me dói cada vez mais lembrar todo sacrifício para nos tornarmos um país democrático para então fazermos tão mau uso dessa conquista, se me corrói minha desesperança com o futuro de nosso país, ontem ao menos por algum tempo me senti mais aliviado.

Ri de raiva, de vergonha e tristeza, mas ri...

Obrigado Danilo.





sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Neymar, uma vítima.

O assunto da semana foi o destempero de Neymar no jogo do Santos contra o Atlético Goianiense, diante da orientação do técnico Dorival Junior que ele não batesse o pênalti que havia sofrido.

O que se seguiu foram cenas de desrespeito e insubordinação inéditas no futebol brasileiro.

A indignação de Renê Simões pareceu sintetizar um medo bastante pertinente:

- Ou se toma alguma medida ou estaremos criando um monstro...

De todas as abordagens sobre o assunto nenhuma me pareceu atentar para aquilo que de fato me parece mais relevante: Neymar como pessoa.

Antes de ser um profissional do futebol, o jovem atleta é um cidadão em formação, antes de produto mercantil é um ser humano.

A qualidade do futebol de Neymar é indiscutível, isso todo mundo sabe, aliás, não é de hoje. Desde muito jovem o atleta do Santos vem sendo tratado como uma jóia, que em breve será partilhada por seus “donos”.

Os atos cometidos por Neymar foram graves, gravíssimos, desrespeitou seus companheiros, seu técnico, sua torcida e seu clube. Mesmo jovem Neymar tem pleno discernimento do que é certo e errado, prova disso é que não foi preciso muito tempo para que o atleta santista percebesse que ao invés de um lindo drible dessa vez ele havia era pisado na bola, pisado feio.

Se não há justificativa, ou seja, se não existe argumento que torne justo seu comportamento, não é difícil explicá-lo.

Minha percepção do ocorrido começou a se dar pelo comportamento do pai de Neymar imediatamente após o acontecimento.

O pai do jovem atleta santista logo se colocou a relativizar o ocorrido, tentando argumentar minimizando a insubordinação de seu filho. Quem falava ali era o pai de Neymar, ou um de seus donos? Quem se manifestava naquele momento, um pai zeloso pela formação do caráter do filho, ou um investidor protegendo seu ativo financeiro?

Não reconheci nas palavras do pai de Neymar a mínima preocupação de uma reprimenda absolutamente necessária diante dos fatos. Entendo inclusive que essa reprimenda deveria ter sido em público, assim como a atitude de Neymar, exatamente para que o jovem tivesse a dimensão da gravidade de sua falta.

Os dias se passaram e a fim de dar uma satisfação para a opinião pública se estabeleceu uma multa pecuniária irrelevante diante dos ganhos mensais do atleta. Inconformado, vendo sua autoridade ameaçada o técnico Dorival Junior exigiu uma medida na mesma ordem de grandeza do erro cometido. Nada demais ok?

Ficou “acertado” então entre diretoria e técnico que Neymar estaria suspenso por “tempo indeterminado”. Jogo de cena. O prazo indeterminado era uma fachada para o afastamento mínimo de um jogo.

Fruto de um “erro de comunicação” Dorival anuncia para surpresa de todos e principalmente da diretoria santista que permanecia a suspensão e que a atleta estaria ausente no clássico contra o Corinthians.

Privilegiar o técnico, a hierarquia e a instituição, ou ceder aos caprichos da mercadoria e ao interesse comercial imediato de ter o jovem atleta jogando no clássico? Formar o profissional (mesmo que através de uma punição), fazendo-o ver a gravidade de seu erro, dar um exemplo ao grupo, ou ceder ao tilintar do vil metal?

Os fatos que se sucederam trouxeram a resposta. Dorival Junior o técnico que fora desrespeitado em sua autoridade e ofendido pessoal e profissionalmente foi demitido ironicamente por quebra de hierarquia.

Atento para o fato de que mesmo sob uma ótica meramente mercadológica o melhor mesmo seria uma punição mais severa ao atleta, a saber:

a) Minimizaria a exposição negativa na mídia;

b) Atenuaria a rejeição já elevada em relação à imagem do atleta. Pelé, Zico e Ronaldo eram unanimidades nessa mesma idade;

c) Diminuiria o risco de empresas não quererem associar sua imagem com a do atleta.

Os “donos” de Neymar não foram competentes para puni-lo, afinal ele é apenas um “o que” que precisa ser valorizado para uma futura venda e não um “quem” sobre o qual deva se ter a preocupação sobre a construção de seus valores.

Fica claro que como pessoa o atleta santista não existe, trata-se apenas de uma mercadoria, aqueles que deveriam zelar por sua formação seja como pessoa, seja como profissional, abriram mão fazendo de Neymar vítima de uma imperdoável omissão.

Neymar: apenas uma mercadoria.
O jovem santista está só entregue a sua própria sorte.

Que seu livre arbítrio lhe permita uma trajetória de vida que vá além do sucesso financeiro, que lhe permita o êxito de se transformar numa pessoa cada vez melhor, que não se torne mais uma estória de fim previsível e triste.

Obs: O tiro parece ter saído pela culatra. Mano Menezes numa reação direta ao ocorrido não convocou o atleta santista. Uma oportunidade a menos para a “valorização” de Neymar.

sábado, 11 de setembro de 2010

Tiririca & os Abestados.

Quase morri de rir esses dias assistindo o horário eleitoral.

Rir para não chorar.

Das candidatas frutas aos revolucionários, passando pelos exóticos, o surrealismo dessa eleição não tem limite.

Tenho a impressão que os humoristas torcem pelo rápido fim do horário eleitoral temendo por seus empregos.

Um país de abestados?
Dos candidatos “exóticos” um ganhou especial destaque na mídia: Tiririca.

O discurso de Tiririca atingiu a todos como uma bomba.

Aos mais humildes agradou pelo riso fácil e discurso elementar:

- Pior que está não fica!

(Será mesmo?)

Aos mais jovens parece servir como condutor de uma mensagem de insatisfação além de manifestação de total alienação. Uma irreverência irresponsável.

Aos políticos “profissionais” repercutiu como afronta, afinal eleição é “coisa séria”.

Aos pretensos pensantes a candidatura funciona como um medidor de nossa pobreza intelectual.

É tudo isso e mais um pouco.

Sem pudores Tiririca revela que não sabe o que faz um deputado, mas uma vez que “esteja lá” vai descobrir e avisar. Um absurdo! Será?

Futuro da nação? Que país é esse?
Pois bem, será que nossos universitários, em sua maioria, saberiam explicar a diferença entre um deputado e um senador? Desconfio que como a maioria dos candidatos, nossos estudantes não fazem a menor idéia do que se trata.

Esses mesmos jovens estão de fato preocupados com o país, seriam capazes de transformar essa insatisfação em algo concreto? Não creio, ainda mais com uma UNE patrocinada e adestrada pelo governo.

Aos intelectuais e todos aqueles que pudessem dar uma contribuição concreta para a construção de um país melhor a candidatura de Tiririca deve soar como um inequívoco e desconfortável sinal do preço de seu silêncio e omissão.

A principal questão que fica (e incomoda) é: como eleitores nós merecemos melhores candidatos, merecemos mais que um Tiririca, ou de fato não passamos de um bando de “abestados”?

A resposta será dada no dia da eleição.

“Vox populi, vox Dei”.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Carta ao Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sou um brasileiro de 43 anos, casado, pais de dois filhos adolescentes, profissional do mercado financeiro desde 1986. Como secundarista militei no movimento estudantil no início dos anos 80.


Fui um privilegiado espectador de grandes mudanças ocorridas em nosso país, desde o fim da ditadura militar até a estabilização econômica, uma das inúmeras conquistas que o Brasil deve ao seu governo.

Sempre fui admirador de sua trajetória política.

Paulista de coração e carioca de nascimento, vi nascer (e agora morrer) o partido que um dia pretendeu ser o mais credenciado a conduzir nosso país.

Um sonho possível para que dispunha de nomes como Franco de Montoro e Mario Covas.

Sob sua condução nosso país atingiu uma nova posição no tabuleiro global. Com orgulho vimos um brasileiro falar para as principais nações do mundo.

O Brasil testemunhou a firmeza com que conduziu seu governo à luz da ética da responsabilidade, sem temer o inexorável ônus do exercício do poder e acima de tudo comprometido com sua missão de fazer de nosso país uma nação melhor e mais justa.

Leitura obrigatória para entender o Brasil
Li seu livro, A arte da política — A história que vivi, Editora Civilização Brasileira, 2006, o que apenas confirmou em mim uma convicção: o Brasil não merecia (ainda não merece, talvez nunca mereça) um homem público de sua envergadura. Minha esperança é que a história lhe faça a justiça que nem mesmo seu partido parece ser capaz.

Mais importante do que o PSDB ganhar as eleições seria preservar suas convicções, oferecê-las ao escrutínio popular como uma opção (a ser escolhida ou não) para a condução de nosso país.

O que se vê hoje, nem de longe, nem com toda tolerância política do mundo, aponta nessa direção. Ao contrário, o que se vê é um partido voltando-se para a direção da qual se distanciou para poder nascer, fazendo alianças que cada vez soam menos cabíveis, necessárias além de absolutamente comprometedoras.

Que se percam eleições, mas nunca a honradez.

O PSDB de hoje caracteriza-se por ser um partido onde as vaidades falam mais alto que o interesse comum, um partido sem rumo e estratégia. A escolha do vice da chapa é um exemplo claro dessa realidade, uma trapalhada quase que sem precedentes...

Acanhados e surpresos os simpatizantes do PSDB assistem no programa eleitoral José Serra ser associado ao Presidente Lula, enquanto seu nome e as conquistas de seus governos pouco são mencionadas na campanha.

É preciso resgatar a verdade histórica, lembrar ao povo brasileiro quem foi o líder que comandou as reformas que permitiram nosso país enfrentar a recente crise econômica de forma tão diferenciada em relação ao resto do mundo.

Se o governo de Lula tem méritos é preciso que ao menos o PSDB tenha a coragem para dizer que esses são fundamentalmente a preservação das conquistas obtidas durante seus governos, é preciso demonstrar a população brasileira que hoje colhemos frutos do que foi plantado durante sua gestão.

São as sementes que foram plantadas no passado que hoje vemos germinar.

No plano internacional é fácil constatar o quão importante foram seus governos.

Tomemos os EUA como exemplo.

No sistema financeiro foi com grande atraso com que o governo americano promoveu à custa do contribuinte o saneamento que seu governo promoveu através do engenhoso PROER, sem utilizar recursos públicos.

Isso precisa ser dito, precisa ser lembrado, é preciso mostrar ao povo brasileiro "que um bom telhado só se firma sobre uma casa que tenha uma sólida fundação".

Foi durante seus mandatos que nosso sistema financeiro alcançou à solidez que hoje nos diferencia das demais nações. O Brasil lhe deve isso e é necessário esse resgate histórico.

É preciso bradar a alto e bom som o precioso tempo perdido durante o atual governo sem que se tenha registrado avanço algum em questões fundamentais como reforma fiscal, previdenciária e política.

Como esperar mais do governo sem que haja oposição?

É preciso fazer OPOSIÇÃO!

Não se trata de ser apenas do contra, mas sim do exercício responsável da vigilância política permanente, algo essencial à democracia.

Numa corrida publicitária, onde há mais preocupação com formato do que com conteúdo, o PSDB parece ter vendido sua alma ao Diabo e deve ir se preparando para levar o calote.

Como alguém em sã consciência faz uma propaganda eleitoral com favela cenográfica?


Infelizmente nosso país dispõe de “excelentes” locações... Além de tremenda barbeiragem, o episódio demonstra o descolamento do partido com as mazelas do país.

Se a campanha se norteia como sendo a legítima postulante a sucessão de Lula em seu "modus operandi", como sendo a candidatura que vai dar “continuidade” ao atual governo, votemos todos então em Dilma já que é ela de fato a candidata oficial.

O PSDB abre mão de sua essência ao lutar com as armas do adversário, fica fadado assim não somente a derrota de uma batalha, mas a morte de sua causa de avançar na construção de um país mais eficiente, mais justo e com instituições cada vez mais sólidas.

Marina Silva através do noticiário rendeu-lhe mais crédito do que qualquer membro de seu partido nessa campanha, assim não me causaria espanto ver eleitores, que como num voto de protesto oposicionista, nela depositassem suas esperanças.

Não existe democracia sem uma oposição forte e nesse sentido o PT deu sua contribuição ao jogo democrático. Agora é a vez do PSDB fazer sua parte e ser de fato uma oposição combatente, apaixonada e acima de tudo defensora do que sua passagem pela Presidência da República representa para a História desse país.

Fica aqui a gratidão de alguém que viveu na pele e no bolso o quão a inflação pode ser devastadora para a economia de uma família humilde e o quão promissor pode ser um ambiente de estabilidade. Se meus filhos viverão num Brasil melhor que o meu, muito desse mérito é seu.

domingo, 22 de agosto de 2010

O preço do sucesso.

Certa vez vi uma entrevista  de Émerson Fittipalidi falando sobre a cultura americana de admiração pela prosperidade e sucesso.


Na mesma oportunidade o piloto comentava como  era diferente essa percepção em nosso país, em suma, suas palavras apontavam para como no Brasil o sucesso era algo visto com um viés negativo.


Emmo estava certo.


Talvez por nossa orientação majoritariamente cristã e com a percepção que o sofrimento purifica, o sucesso em terras tupiniquins é pecado capital.


A lógica reinante é que o mérito por si só não existe e o sucesso sempre, invariavelmente, é fruto de alguma desonestidade ou algo equivalente.


É como se num país de miseráveis o menor sinal de prosperidade fosse uma afronta e não algo a se admirar e até mesmo almejar.


Há quem acredite que devamos acabar com os ricos eu pessoalmente acho que seria melhor erradicar a pobreza.


jornalismo?
Nessa semana na revista Isto É o jornalista Leonardo Attuch assina a coluna “ O terno de Lula”.
Na coluna o jornalista traça uma relação entre o fato de Eike Batista ter arrematado por R$ 500.000,00 o terno da posse do Presidente Lula e tê-lo doado a Organizaão chefiada pela Primeira Dama Marisa Letícia com os financiamentos obtidos por suas empresas junto ao BNDES. (leia  http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/3_LEONARDO+ATTUCH ).
com ou sem franja...

Além de ponderar sobre a “volumosa franja” de Eike Batista (a quem interessaria tais ponderações?) numa séries de comentários inócuos (ao menos para aquele que imagino ser o leitor da Isto é), o colunista faz claras insinuações no sentido de apontar para algum tipo de benefício indevido para o empresário por parte do presidente do BNDES Luciano Coutinho.


“Eike Batista pagou R$ 500.000,00 por ele (o terno). Depois embolsou mais alguns milhões do generoso BNDES” diz textualmente a chamada da coluna.


Segundo Attuch, bastaria aplicar os recursos subsidiados pelo BNDES em títulos do governo federal para se apurar um significativo lucro fruto da diferença de taxas.


Acredito na sociedade de direito, onde existem premissas fundamentais e inegociáveis dentre as quais destaco a presunção da inocência.  


Até que se prove contrário Luciano Coutinho e Eike Batista (assim como eu e você) são cidadãos brasileiros honestos e merecedores do respeito de nossa sociedade. Se a percepção do jornalista é diferente dessa caberia a ele apresentar as provas em contrário, qualquer coisa diferente disso é leviandade e calúnia, devendo ser tratada como tal sejam pelos caluniados sejam pelos leitores da revista.


O BNDES é um órgão de fomento de atividade econômica, seu (importantíssimo) papel portanto é esse mesmo o de financiar atividades que possam ser geradoras de empregos e tributos. Nunca obtive recursos junto ao órgão mas como profissional do mercado financeiro o que é de meu conhecimento é que são absolutamente rigorosos os critérios de concessão de crédito.


Eike Batista é um dos homens mais ricos do mundo (US$ 30 BI), suas empresas empregam milhares de brasileiros e apresentaram significativa valorização num claro reconhecimento do mercado de seu sucesso, algo imperdoável no Brasil…


Não consigo imaginar como alguém com um mínimo de bom senso e compromisso com a verdade dos fatos posssa tentar traçar uma relação entre a doação feita por Eike Batista pessoa física e os financiamentos obtidos por empresas de capital aberto que são controladas pelo empresário.


A coluna me parece muito mais uma tentativa (talvez até bem sucedida) de “jogar para a torcida” com uma polêmica fabricada conseguindo assim um espaço que normalmente o jornalista não teria.  Seja o que for, uma coisa é certa: não se trata de jornalismo.


Os próprios números utilizados na coluna demonstram a fragilidade do argumento, pois demonstram a pequena relevância do montante dos empréstimos que não chegam a 10% do patrimônio pessoal do empresário.


O fato é que o sucesso de Eike parece ser imperdoável.


Eu não sei o quão melhor seria nosso país se tivéssemos mais Leonardos Attuch, mas não tenho dúvida alguma que o Brasil seria um país bem melhor se tivéssemos mais empreendedores com o sucesso de Eike Batista, com franja, sem, ou até mesmo careca.


Em tempo:


Não tenho simpatia (ou antipatia) alguma pela figura pessoal de Eike Batista (não tenho elementos para tal), muito menos procuração para fazer sua defesa (o que aliás não fiz, afinal não há do que defendê-lo).


Aliás o Mega-ultra-super-uber empresário, nem de longe desconfia da existência desse colunista mundialmente conhecido por algumas pessoas da vizinhança.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De Osvaldo Aranha à Lula: A decadência da diplomacia.


Em viagem a Nova Iorque, participava de uma visita guiada à sede das Nações Unidas quando nos foi apresentada a sala onde se realizam as Assembléias Gerais.

Perguntei a guia se ela sabia o motivo de todo ano ser o Brasil o país que fazia o discurso de abertura da Assembléia. Surpresa, ela me confessou que nem sabia desse fato.

Orgulhoso (e pretensioso também), expliquei que a primeira Assembléia das Nações Unidas em 1947, teve com seu primeiro orador o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, criando-se assim tradição que permanece até hoje.

Nosso diplomata foi figura importante no cenário mundial não somente durante a guerra (foi decisiva sua ação para que o Brasil apoiasse os Aliados), assim como no pós-guerra e na nova ordem mundial que daí se estabeleceu.

Em 1948, presidiu a segunda Assembléia Geral do órgão, coordenando as ações que culminaram com a criação do Estado de Israel.

As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial foram tamanhas que foi inexorável dentro de uma perspectiva histórica produzir um documento que falasse sobre aquilo que se entendia como sendo os inalienáveis direitos de uma pessoa por sua condição humana. Nascia assim a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Se por um lado o documento se demonstra utópico, por não tem força de lei, por se tratar de uma declaração, além de vislumbrar um ideal de justiça e paz, serve como norte nas relações internacionais além de referência pétrea daquilo que se pode ou não admitir num mundo que se pretende civilizado.

Foi enorme o legado de Osvaldo Aranha para a diplomacia brasileira.

Assim ao longo da história sempre ocupamos lugar de destaque, não somente por nossa liderança regional natural, não somente pela qualidade de nosso corpo diplomático de carreira, mas fundamentalmente por nossa vocação de nação plural e tolerante.

Nação de todas as cores, fruto da mais maravilhosa miscigenação o Brasil está (ou deveria) para o mundo como uma reserva de tolerância étnica, religiosa e de todas as formas possíveis de distinção que se possam aplicar as pessoas.

São inúmeros (quase que incontáveis) os tropeços do Governo Lula no campo da diplomacia.

Nos últimos capítulos vimos uma atrapalhada tentativa brasileira de se colocar na condição de interlocução junto ao isolado governo iraniano. Se essa ação não nos trouxe nenhum tipo de benefício, ao contrário nos colocou sob os holofotes mundiais numa perspectiva bastante questionável. Afinal, o Irã é um país que tem como chefe de governo alguém que contesta a veracidade do Holocausto, uma afronta a humanidade e a memória de milhões de vidas perdidas nos campos de concentração nazistas.

Diz a sabedoria popular: “me diga com quem andas que te direi quem és”.

Ao ter se colocado na condição de interlocução junto ao Irã, o governo brasileiro trouxe para si o ônus adicional de se posicionar a tudo aquilo que diz respeito a esse país, especialmente nos flagrantes desrespeitos aos direitos humanos.

Estarrecido, o mundo assiste incrédulo a possibilidade de que a iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani seja condenada a morrer apredejada. O motivo? Pouco importa.

Há que se perguntar haveria algum motivo ou mesmo falta tamanha que pudesse justificar tal atrocidade?

O pior crime que Sakineh tivesse cometido não daria ao governo iraniano tal direito.

Já que o Brasil se colocou na figura de seu presidente como um parceiro do Irã, nada mais natural que usar essa proximidade para interceder junto ao governo iraniano em defesa do direito à vida de Sakineh, certo?

Errado.

Num primeiro momento, após várias manifestações em cobrança, Lula fez um módico e acanhado pronunciamento num comício em Curitiba. Mais humanitário que político, em suas próprias palavras, Lula sugeriu que a pena fosse suspensa.

Lógico que o que se espera de um chefe de Estado é que esse aja como tal, assim foram inúmeras as críticas por uma fala mais formal de nosso presidente que se saiu com essas afirmações que dão bem a dimensão de nosso chefe de Estado:

- Sobre a questão dos direitos humanos no Irã, não conheço profundamente como funciona o país. Sei que cada país tem suas leis, Constituição, religião e nós, concordando ou não, precisamos aprender a respeitar o procedimento de cada país.

- Oferecemos asilo já que ela "está causando desconforto ao Irã".

Caro presidente respeito não se aprende, se conquista.

Eu nunca vou respeitar um governo que ignora um senso mínimo de civilidade, nunca aceitarei uma constituição ou lei que desrespeite o direito a vida e que ignore a condição humana que presume a igualdade entre homens sem nenhum tipo de distinção.

Aliás, sugiro ao nosso presidente rever suas amizades, uma vez que sua fala se quer mereceu mais do que uma lacônica nota do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã. Se o presidente iraniano não deu maior atenção à fala de Lula, muito menos seu ministro. Parece que para os iranianos Lula não é tão importante quanto imaginava ser...



Declaração Universal dos Direitos Humanos


Veja o vídeo da campanha em defesa do direito à vida de Sakineh