domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mimi (sobre o que é o amor...)

Desde que nascemos vamos montando o mosaico de nossas convicções.

O certo e o errado, o bom e o mau, aquilo que é gostoso e o quiabo, vamos colocando as coisas nos seus devidos lugares.

Assim firmamos nossas certezas sobre esse ou aquele tema. Quão mais longa é nossa jornada, mais esses valores se cristalizam em nosso íntimo, muitos deles tornando-se parte fundamental do que somos.

Raul disse um dia que preferia ser uma metamorfose ambulante do que ter uma velha opinião formada sobre tudo. Sábias palavras (dentre tantas outras).

Cresci (como a grande maioria dos meninos) tendo entre meus grandes amigos alguns cães.

Teddy foi um deles. Lindo, negro, um genuíno vira-lata. De porte médio, mas com tamanha altivez que nem desconfiava de sua origem assim não tão nobre. Lembro orgulhoso do dia em que ele colocou Marfim, o bacana do pedaço, pra correr.

Os anos se passaram e cresci amando os cães e, digamos assim, sem o mesmo apreço (nenhum na verdade) pelos gatos.

Afinal de contas "o cão é o melhor amigo do homem", enquanto os gatos "não pertencem a ninguém, são seus próprios donos, só fazem o que querem".

Meu filho mais novo, o Kike, é o diferente daqui de casa. Enquanto a humanidade vive sob o domínio da Microsoft, ele é um applemaníaco (talvez o maior deles). Enquanto todos buscamos algo para crer ele se sai com uma dessas, justificando seu ateísmo:

- Quanto mais sabemos pai... menos acreditamos.

Kike um dia resolveu: queria um gato. Um gato?

A casa entrou em guerra. Eu não gostei da idéia, enquanto o irmão detestou imaginar um bichano pela casa.

Kike come o mingau pelas beiradas, nunca queima a boca e sempre consegue o que quer.

Com o gato não foi diferente e quando me dei conta lá estava o Mimi andando pela casa.

Bom, deixando a originalidade do nome de lado, Mimi estava entre nós.

De início já fui impondo limites "inegociáveis". No meu quarto nem pensar, se viesse se esfregar em mim bateria um penalti tendo sua cabeça como bola etc.
O "predador" em ação

Mimi foi chegando como quem não quer nada, assim como seu irmão Kike, e tomando conta do pedaço, conquistando-nos um a um, até mesmo seu irmão mais velho que insisti em chamá-lo apenas de "gato" numa tentativa frustada de manter a imagem de durão.

Lembro do dia em que, pela primeira vez, ele veio me receber quando eu chegava do trabalho, igualzinho como meus filhos faziam quando crianças.

Pela porta entreaberta pude ver ele olhando e vindo em minha direção. Ligou seu motorzinho e não sossegou até ter minha atenção e carinho.

Realmente o convívio com o Mimi me mostrou que ele não tem dono, que carinho ele faz e recebe quando quer. Mimi tem vontade própria e se não fala nossa língua, fala com o olhar como poucas pessoas são capazes e acredite é capaz de sentir meu estado de espírito como ninguém. Se estou pra baixo, não me falta um carinho seu.

Preguiça de dar inveja
Além do afeto que despertou em mim, Mimi também me mostrou que existe alguém mais preguiçoso que eu e o Dorival Caymmi.


Por crer que nada na vida é obra do acaso, acredito que a missão de Mimi em minha  vida é mostrar que nunca devemos ser assim tão reféns de "velhas opiniões formadas sobre tudo" , principalmente, "sobre o que é o amor".