sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Neymar, uma vítima.

O assunto da semana foi o destempero de Neymar no jogo do Santos contra o Atlético Goianiense, diante da orientação do técnico Dorival Junior que ele não batesse o pênalti que havia sofrido.

O que se seguiu foram cenas de desrespeito e insubordinação inéditas no futebol brasileiro.

A indignação de Renê Simões pareceu sintetizar um medo bastante pertinente:

- Ou se toma alguma medida ou estaremos criando um monstro...

De todas as abordagens sobre o assunto nenhuma me pareceu atentar para aquilo que de fato me parece mais relevante: Neymar como pessoa.

Antes de ser um profissional do futebol, o jovem atleta é um cidadão em formação, antes de produto mercantil é um ser humano.

A qualidade do futebol de Neymar é indiscutível, isso todo mundo sabe, aliás, não é de hoje. Desde muito jovem o atleta do Santos vem sendo tratado como uma jóia, que em breve será partilhada por seus “donos”.

Os atos cometidos por Neymar foram graves, gravíssimos, desrespeitou seus companheiros, seu técnico, sua torcida e seu clube. Mesmo jovem Neymar tem pleno discernimento do que é certo e errado, prova disso é que não foi preciso muito tempo para que o atleta santista percebesse que ao invés de um lindo drible dessa vez ele havia era pisado na bola, pisado feio.

Se não há justificativa, ou seja, se não existe argumento que torne justo seu comportamento, não é difícil explicá-lo.

Minha percepção do ocorrido começou a se dar pelo comportamento do pai de Neymar imediatamente após o acontecimento.

O pai do jovem atleta santista logo se colocou a relativizar o ocorrido, tentando argumentar minimizando a insubordinação de seu filho. Quem falava ali era o pai de Neymar, ou um de seus donos? Quem se manifestava naquele momento, um pai zeloso pela formação do caráter do filho, ou um investidor protegendo seu ativo financeiro?

Não reconheci nas palavras do pai de Neymar a mínima preocupação de uma reprimenda absolutamente necessária diante dos fatos. Entendo inclusive que essa reprimenda deveria ter sido em público, assim como a atitude de Neymar, exatamente para que o jovem tivesse a dimensão da gravidade de sua falta.

Os dias se passaram e a fim de dar uma satisfação para a opinião pública se estabeleceu uma multa pecuniária irrelevante diante dos ganhos mensais do atleta. Inconformado, vendo sua autoridade ameaçada o técnico Dorival Junior exigiu uma medida na mesma ordem de grandeza do erro cometido. Nada demais ok?

Ficou “acertado” então entre diretoria e técnico que Neymar estaria suspenso por “tempo indeterminado”. Jogo de cena. O prazo indeterminado era uma fachada para o afastamento mínimo de um jogo.

Fruto de um “erro de comunicação” Dorival anuncia para surpresa de todos e principalmente da diretoria santista que permanecia a suspensão e que a atleta estaria ausente no clássico contra o Corinthians.

Privilegiar o técnico, a hierarquia e a instituição, ou ceder aos caprichos da mercadoria e ao interesse comercial imediato de ter o jovem atleta jogando no clássico? Formar o profissional (mesmo que através de uma punição), fazendo-o ver a gravidade de seu erro, dar um exemplo ao grupo, ou ceder ao tilintar do vil metal?

Os fatos que se sucederam trouxeram a resposta. Dorival Junior o técnico que fora desrespeitado em sua autoridade e ofendido pessoal e profissionalmente foi demitido ironicamente por quebra de hierarquia.

Atento para o fato de que mesmo sob uma ótica meramente mercadológica o melhor mesmo seria uma punição mais severa ao atleta, a saber:

a) Minimizaria a exposição negativa na mídia;

b) Atenuaria a rejeição já elevada em relação à imagem do atleta. Pelé, Zico e Ronaldo eram unanimidades nessa mesma idade;

c) Diminuiria o risco de empresas não quererem associar sua imagem com a do atleta.

Os “donos” de Neymar não foram competentes para puni-lo, afinal ele é apenas um “o que” que precisa ser valorizado para uma futura venda e não um “quem” sobre o qual deva se ter a preocupação sobre a construção de seus valores.

Fica claro que como pessoa o atleta santista não existe, trata-se apenas de uma mercadoria, aqueles que deveriam zelar por sua formação seja como pessoa, seja como profissional, abriram mão fazendo de Neymar vítima de uma imperdoável omissão.

Neymar: apenas uma mercadoria.
O jovem santista está só entregue a sua própria sorte.

Que seu livre arbítrio lhe permita uma trajetória de vida que vá além do sucesso financeiro, que lhe permita o êxito de se transformar numa pessoa cada vez melhor, que não se torne mais uma estória de fim previsível e triste.

Obs: O tiro parece ter saído pela culatra. Mano Menezes numa reação direta ao ocorrido não convocou o atleta santista. Uma oportunidade a menos para a “valorização” de Neymar.

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