sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Silêncio vergonhoso.

Depois de 42 anos de uma cruel ditadura eis que a “Primavera Árabe” derrubou definitivamente mais um regime, agora na Líbia.

Ainda martela minha cabeça a imagem de Muammar Kadhafi capturado e martirizado pelos rebeldes líbios. As imagens do ditador indefeso diante de seus algozes instantes antes de sua morte insistem em não abandonar meus pensamentos.

Longe de mim, escrever uma linha que seja em defesa Kadhafi, seguramente um dos piores seres humanos que já habitou o planeta. São inúmeros os relatos de casos de extrema crueldade sob sua responsabilidade direta e indireta. Assim como tantos outros ditadores na história, seu trágico fim era mais do que esperado.

Como cristão sou totalmente contra a pena de morte e sempre uso como argumento o fato de que o mais inocente dos homens foi condenado à morte, condenado a morrer na cruz.

Entendo que um estado soberano possa ter em suas leis a pena de morte. Se não aceito a pena capital como fato concreto, como fato legal ela é uma realidade de muitos países, alguns inclusive ditos desenvolvidos.

Nada jamais irá justificar o que os rebeldes fizeram com Kadhafi e ao assassiná-lo indefeso, igualaram-se em crueldade, principalmente por não lhe permitir julgamento justo.

Nesse episódio minha maior dúvida ainda é saber o que mais me choca: se a violência das imagens ou o atordoante silêncio público e midiático diante do linchamento covarde do ditador líbio.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pelo direito à imbecilidade.

Sou telespectador assíduo do CQC, assim estava sintonizado quando Rafinha Bastos fez a grosseira e infeliz piada envolvendo Wanessa Camargo. Na hora pensei: vai dar merd... 

Dito e feito.

Rafinha Bastos não é portador de nenhum tipo de mandato executivo, não pertence ao poder legislativo ou judiciário, muito menos é um líder religioso, ou algo equivalente, trata-se apenas e tão somente de um humorista. 

Para alguns Rafinha é um bom, excelente humorista, para outros um tipo pretensioso e pedante, para outros tantos um péssimo humorista... 

A piada de péssimo gosto feita por Rafinha despertou reações, natural. 

Nada a se estranhar que Wanessa Camargo, seu marido, familiares e pessoas próximas tenham se sentido ofendidas, podendo até, se assim entenderem, buscar o caminho legal para repararem o dano que entendam terem sofrido. Que se faça justiça se for o caso.

O que pra mim não parece natural é a virulência das demais reações.

A Veja, numa pretensa matéria jornalística, desancou Rafinha, classificando-o como o rei da baixaria. Pretenso jornalismo, já que é premissa de quem busca a verdade ouvir opiniões contra e a favor, o que definitivamente não foi o caso. 

Nas redes sociais na mesma linha da matéria a repercussão foi extremamente crítica com um inacreditável viés moralista.

O Brasil realmente precisa de um grande e aprofundado estudo. 

Como podemos eleger um palhaço como deputado e levar tão a sério um humorista? Como podemos conviver passivamente com toda sorte de escândalos e nos ofendermos tanto assim com uma (infeliz) piada?

Repercutindo a "reação pública" a Bandeirantes resolveu suspender Rafinha. Medida ao meu ver exagerada, bastaria uma nota de esclarecimento na linha: a piada foi de responsabilidade de seu autor, ao qual somos críticos, respeitando porém seu direito a livre expressão. Simples assim.

A sensação que tenho é que como uma jovem democracia ainda temos uma certa tendência à censura, parece que precisamos sempre de uma instância superior qualquer delimitando limites, nos dizendo o que pode e o que não pode, é como se ainda não tivéssemos consolidado em nossos valores sociais o direito à livre expressão.

Dias atrás através de sua Ministra Irany Lopes o governo pedia censura à peça publicitária onde Gisele Bundchen ensinava a maneira "certa" (de lingerie, kkk) de comunicar ao marido gastos extras. Segundo o governo a propaganda atentava contra a imagem da mulher. Que tal me deixar avaliar isso por minha própria conta, ou será que preciso do governo fazendo isso por mim?

Não bastasse isso, a mesma Ministra dias atrás interpelou a Rede Globo tentando interferir no roteiro da novela para que o personagem que agride a esposa fosse exemplarmente punido. Ok. Se o Estado não é capaz de garantir direitos na realidade pelo menos na novela, é isso? É mole? Alguém imagina um representante de um governo de um país desenvolvido agindo assim?

Fui um dos tantos brasileiros que lutou contra a tortura e a censura, vibrei com a Anistia, com "a volta do irmão do Henfil", pedi por democracia nas Diretas-Já e não vai ser um piada idiota que vai me fazer jogar tudo isso no lixo.

Que Rafinha Bastos seja livre para exercitar seu humor mesmo que por vezes de forma imbecil.