quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dunga: Um estadista.

Nossa seleção foi convocada para a Copa de 2010 na África do Sul.

Não dava para ser diferente, assim como sempre, nem de longe dá para se pensar em unanimidade. A maioria se manifestou contrária aos critérios usados pelo técnico. Eu para variar, sou do contra e mais do que nunca me declaro fã incondicional do Dunga.

Era fã do Dunga de 1990, jogador aplicado dedicado, profissional. Injustiça da história a lambança do técnico daquela seleção (o qual me recuso a proferir o nome) recaiu sobre um dos poucos jogadores de fato comprometidos com a seleção brasileira daquela ocasião.

Copa de 1994. Nossa seleção, vaiada pelos campos do Brasil, classificou-se na última partida contra o Uruguai no Maracanã. Partimos para os EUA desacreditados, mas o grupo que lá desembarcou foi praticamente o mesmo que havia disputado a derradeira partida. União, grupo, eram palavras que descreviam bem aquela equipe.

Depois de 24 anos, dos quais me lembro bem de todas as decepções, fomos campeões.

Há quem diga que não teve graça já que ganhamos nos pênaltis...

Hã?

Aqui ó!

Prefiro ganhar nos pênaltis que ser triturado pela Holanda em 1974, que ser campeão moral como em 1978, do que sofrer o que sofri em 1982 e 1986, da vergonha que passei em 1990. Vale lembrar, na final de 1994 em nenhum momento a Itália de fato nos ameaçou ao contrário foi o Brasil que sempre esteve mais próximo do gol. Ir para os pênaltis foi na verdade uma grande conquista para a Itália. Nunca corremos o risco de perder aquela Copa. Fizemos uma campanha consistente, se contamos com a genialidade de Romário, foi um meio de campo compacto que nos garantiu a posse de bola, ou alguém faz gol sem estar com a bola?

Dunga foi nosso capitão naquela Copa, ficou de vigia do Romário com quem divida o quarto, colocou o baixinho na linha o que nos garantiu aquela conquista. Por sua experiência, nosso técnico conhece os “macetes” de uma Copa do Mundo como poucos.

Em 1998 perdemos para uma excelente França e cumprimos nosso papel chegando à final. Algo a ser respeitado, menos no Brasil onde ou você é campeão ou você não é nada.

Em 2002 um brilhante trabalho de grupo comandado por Felipão novamente nos levou a condição de campeões. Prevaleceu o grupo em detrimentos dos craques que não eram poucos.

Sem comentários para 2006. O fundo do poço, a banalização máxima da Seleção, um palco de vaidades, de individualidades, definitivamente e graças a Deus o fim de uma era.

Hora de retomar o curso da História de colocar o Brasil no seu verdadeiro lugar.

Dunga chegou para arrumar a casa, resgatar a seleção, trazer de volta a importância de vestir a camisa do Brasil.

Mesmo com três copas do mundo no currículo, absurdamente houve quem indo contra sua indicação argumentou sobre sua falta de experiência. Realmente a paixão cega...

O tempo veio e com ele os famigerados fatos... Ah quem pode com eles, os fatos?

Dunga ganhou a Copa América, a Copa das Confederações além da classificação em primeiro lugar nas Eliminatórias. Foi construindo um grupo não somente de atletas, de bons jogadores, mas de profissionais e pessoas com valores que privilegiam o grupo em detrimento de interesses pessoais. Dunga conseguiu colocar novamente a Seleção em primeiro lugar, antes de toda e qualquer vaidade.

Dunga nos incomoda, pois ele simboliza e privilegia o esforço a dedicação e não a “esperteza” a “malandragem”. Dunga nos incomoda por escolher optar por sua coerência e não pela conveniência de agradar a “maioria”, opta pela responsabilidade de ser honesto com seus princípios abrindo mão assim do conforto de não ser cobrado.

Dunga prepondera meritocracia sobre o talento de ocasião, afinal, mesmo estando em excelente fase, Neymar e Ganso, tem em seu currículo apenas e tão somente um bom campeonato paulista, ou não? São grandes promessas para o futebol brasileiro? Sem dúvida, mas daí a correr o risco de expor a coesão de um grupo que se formou ao longo de quase quatro anos, só mesmo a paixão que o futebol desperta poderia justificar tamanha insanidade. Só quem nunca de fato liderou um grupo, que desconhece a complexidade de coordenar pessoas de movê-las em harmonia na direção de um objetivo pode pensar dessa forma.

O poder isola, não é possível exercê-lo responsavelmente sem ônus e como se fora um estadista Dunga não abre mão do exercício responsável de seu poder.

Numa nação de Macunaímas, incomoda mesmo ver prevalecer o anonimato do grupo sobre o brilho do herói, afinal estamos sempre buscando um salvador da pátria, um caminho fácil, uma solução milagrosa, ou um outro alguém a quem culpar em nosso lugar. Mais fácil isso, acreditar em soluções mirabolantes, em lances milagrosos, do que investir no longo prazo, no resultado sofrido, no esforço, na dedicação...

Sempre fui fã de Romário, mas tenho certeza que sua não convocação para a Copa de 2002 foi determinante como exemplo de que ninguém era maior que a Seleção que deveria e que estava acima de tudo. Foi essa a base daquela conquista: o grupo antes do indivíduo.

Contra tudo e contra todos, mas fiel as suas convicções, Felipão bancou sua decisão de não convocar Romário e hoje é aclamado por sua conquista.

Seus críticos que depois se calaram, agora novamente se levantam tendo como alvo Dunga, afinal é mais fácil mesmo apostar contra, são 31 chances de se acertar...

Creio que novamente quebrarão a cara, pois novamente seremos campeões, novamente teremos que nos deparar com a inconveniente realidade que uma vitória não se constrói com oba-oba e sim com suor, sangue e lágrimas.

Fernando Henrique Cardoso em seu mais recente livro nos fala sobre a ética da moral e a ética da responsabilidade. A moral diz que matar é errado, mas a responsabilidade diz que para defender um país de um ataque pode-se aceitar tirar vidas. Entre o acerto moral de atender o dito clamor popular e o exercício responsável de suas atribuições e convicções, como um grande estadista Dunga não hesita, mesmo que isso custe a simpatia popular e o apoio da imprensa.

Se a história do futebol já reserva a Dunga um lugar de honra, sua passagem como técnico pela seleção, e a conquista dessa Copa do Mundo, dará a esse lugar ainda mais destaque.

sábado, 8 de maio de 2010

Amor de mãe.

Uma semana atrás aqui em meu blog lamentava (ainda lamento em meu coração) a perda de um grande amigo.

Das lições que esse episódio trouxe ou mesmo reforçou, uma delas é valorizar as pessoas que a quem amamos e agradecer a benção de seu convívio.

Amei e fui amado ao longo de minha vida. Sempre procurei dar meu máximo, demonstrar a intensidade de meus sentimentos e não deixar um beijo, um obrigado, um abraço ou um eu te amo para amanhã. Nunca sabemos se teremos outra chance e uma manifestação de amor que se deixe de fazer, não tem volta é uma a menos. Só quem já perdeu alguém querido sabe de fato o valor de um abraço, de uma palavra amiga e do quão doída por ser a saudade...

Como pai sempre procurei externar meu amor, e enciumado, confesso, nunca digeri muito bem essa coisa de “mãe é mãe” e “pai é o que cria”, humpft.@#! Que estória é essa, pensava eu.

Só fui entender isso, quando meu filho mais velho foi fazer intercâmbio no exterior. Dia após dia pude testemunhar uma forma de amor, que absolutamente despreza, sem pudor algum, a razão, um amor visceral, um amor que vem não somente do coração, mas também do útero.

Foi testemunhando o amor de minha esposa por seus filhos é que pude compreender melhor o amor de minha mãe. Sentir sua intensidade sempre senti, mas compreender suas motivações, suas perspectivas em toda sua profundidade é quase que algo novo para mim.

Existe um único ser humano na minha estória de vida que foi capaz de me amar com maior intensidade do amor que de mim recebeu: minha mãe, Isomar.

Parece lugar comum, mas ao contrário, o mais puro reflexo da realidade, minha mãe sempre foi uma mulher a frente de seu tempo.

Enquanto as mães de meus amigos de infância eram na sua grande maioria donas de casa, minha mãe ao contrário sempre trabalhou. Funcionária de carreira do Ministério da Saúde foi com o esforço de seu trabalho que minha mãe pôde superar as dificuldades financeiras comuns a uma família de origem humilde como a nossa. Com seu trabalho, ajudou meu pai no orçamento familiar que nos garantiu uma vida que sempre foi digna.

Minha mãe trabalhou durante toda vida e hoje desfruta sua merecida aposentadoria, mas isso nunca comprometeu sua presença em nossa educação, ao contrário, exatamente tentando compensar essa ausência que o trabalho impunha, minha mãe se fez o máximo presente possível na minha formação e na de meu irmão, muito mais que a esmagadora maioria das mães.

Se sempre admirei sua fibra, foi na morte de meu pai que essa força se mostrou de dimensão sobre-humana. Ainda nos momentos derradeiros da vida de meu pai, quando seu destino já estava traçado e seu quadro era irreversível, com vigor e autoridade decretou: iríamos prestar ao nosso pai as homenagens devidas, mas dali em diante cada um de nós iria para sua casa, eu para a minha com minha esposa e filhos, meu irmão (não ocasião ainda sem suas filhas) com sua esposa e minha mãe, sozinha, iria para sua casa, começando ali uma nova etapa de sua vida.

Sei e sinto a falta que meu pai faz em sua vida, mas nem mesmo isso é capaz de abalar sua fortaleza.

É nessa força que me alimento nos momentos de dificuldade, é dessa força que busco inspiração para seguir em frente por maior que seja a adversidade.



Mãe você é uma fonte de inspiração para mim e ser teu filho é mais que um privilégio e é grande a responsabilidade de ser digno de seu amor.

De minha parte vou fazendo o que posso, mas sem nunca deixar de agradecer a Deus pela graça de ser seu filho.

Mãe eu te amo.