sábado, 9 de outubro de 2010

Agnelli x Gabrielli (ou quanto pode custar ao trabalhador um governo de "trabalhadores")

Profissional do mercado de capitais brasileiro desde 1986 venho testemunhando a história de nosso país.

Como profissional vivenciei todos os planos econômicos, as crises pós-globalização, as privatizações, a crise cambial brasileira, apagão, atentado ao World Trade Center e a alternância do poder na jovem democracia brasileira. Tudo isso recheado por seis eleições presidenciais.

Dentre esses eventos as privatizações representaram um marco em especial para nosso mercado de capitais, assunto esse sempre presente em época de eleição.

Foi através do mercado de capitais que o governo brasileiro encontrou compradores para as empresas submetidas ao processo de privatização.

Lembro bem das manifestações “operárias” contrárias as privatizações, como da mesma forma das manobras de bastidores daqueles que temiam pela extinção de privilégios.

Após uma guerra de liminares, ufa, o Brasil se rendia ao óbvio: o real e devido papel do Estado na economia.

Vale do Rio Doce é um bom exemplo de como uma empresa pode ser bem mais útil à nação nas mãos da iniciativa privada ao invés de gerida pelo governo. Nesse caso cabe bem a máxima “o boi só engorda com o olho do dono”.

Não tenho aqui a pretensão de me estender em números, mas sim chamar a atenção para a ordem de grandeza dos eventos e a lição que eles no dão.

Vale do Rio Doce foi privatizada em 06.05.1997 recebendo o Tesouro Brasileiro pela venda de sua participação na empresa US$ 3,3 bi, valor insignificante se comparado aos resultados atuais da empresa.

Ainda hoje, existem inúmeros questionamentos sobre esse processo, todos redundando no, suposto, baixo valor apurado com a privatização.

Vale lembrar que o processo de privatização se deu através de edital de leilão público em bolsa de valores e ainda assim foram necessários recursos financiados pelo BNDES para viabilizar o processo.

É importante ressaltar que a participação do Tesouro Brasileiro na Vale do Rio Doce foi vendida para o melhor comprador credenciado a participar do leilão, ou seja, a alienação se deu pelo melhor preço possível naquele momento.

Minha opinião: se o governo brasileiro tivesse doado a Vale do Rio Doce para qualquer um que demonstrasse capacidade de gerir a empresa já teria sido excelente negócio.

Para quem não concorda sugiro que pesquise o quão mais a Vale do Rio Doce hoje emprega e arrecada impostos. A diferença dos números é astronômica.

Diferente de quando sob controle estatal, hoje são critérios de eficiência e meritocracia que orientam as ações da empresa, diferente de quando nas mãos do governo a empresa era um grande cabide de empregos além de foco de corrupção.

Obviamente vários fatores influenciam a valorização de mercado de uma empresa, mas mesmo que se levando isso em consideração a evolução comparativa entre Vale do Rio Doce e Petrobrás nos leva a inequívoca conclusão de que um governo de trabalhadores pode custar muito caro a um trabalhador que tenha resolvido poupar seu FGTS comprando ações de Petrobrás.

É possível que se argumente que Vale se beneficiou da elevação dos preços dos minérios enquanto Petrobrás foi penalizada pela queda nas cotações do petróleo, ainda assim a diferença dos números é gritante.


Agnelli x Gabrielli, eficiência e partidarização
Se por um lado a Vale é presidida por Roger Agnelli com foco na defesa do interesses dos acionistas da companhia, a Petrobrás em contrapartida é comandada pelo companheiro José Sérgio Gabrielli em profundo alinhamento com os interesses do governo em detrimento dos interesses dos demais acionistas.

Se Agnelli foi conduzido ao comando de Vale por sua trajetória de sucesso como executivo, Gabrielli, de origem acadêmica, hoje comanda a Petrobrás tendo como principal e inexorável qualificação sua filiação partidária.

As incertezas durante o recente processo de capitalização de Petrobrás, a pulverização da participação do minoritário no capital da empresa, associados ao temor de ingerência política na condução da companhia, tornou ainda mais evidente a disparidade da valorização das companhias.

O mercado está errado? Ok, o mercado erra, mas é soberano.

Se ao longo do tempo Vale vem se valorizando significativamente mais em relação à Petrobrás, em 2010 essa realidade não foi diferente.

Em agosto desse ano, portanto antes da capitalização de Petrobrás, Vale chegou a ter valor de mercado superior ao de Petrobrás até então detentora do título de maior empresa latino-americana.


Pelo fechamento do mercado em 08.10.2010, Petrobrás está com perda acumulada de 27,57% no ano, isso mesmo, quase um terço do valor da empresa, enquanto no mesmo período Vale do Rio Doce valoriza-se 13,01%, ante uma valorização do Ibovespa de 3,24%.

Números...quem pode com eles?
Comparativamente ao desempenho de Vale do Rio Doce, apenas nesse ano a gestão dos “trabalhadores” custou ao trabalhador brasileiro 56%.

Ainda assim, diante de fatos tão claros, há quem defenda uma maior participação do Estado na economia, há quem seja contra as privatizações. Se você for da turma “delles” tudo bem, caso contrário para ter seu Land Rover é melhor deixar seu dinheiro na mão de profissionais.

Obs: A Petrobrás é uma grande empresa, patrimônio do país, detentora de tecnologia de ponta e dispõe de um corpo técnico de qualidade incontestável, continua sendo uma excelente opção de investimento. A empresa é tão fantástica que vem heroicamente resistindo a todas as ingerências políticas das quais tem sido vítima.
















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