segunda-feira, 16 de agosto de 2010

De Osvaldo Aranha à Lula: A decadência da diplomacia.


Em viagem a Nova Iorque, participava de uma visita guiada à sede das Nações Unidas quando nos foi apresentada a sala onde se realizam as Assembléias Gerais.

Perguntei a guia se ela sabia o motivo de todo ano ser o Brasil o país que fazia o discurso de abertura da Assembléia. Surpresa, ela me confessou que nem sabia desse fato.

Orgulhoso (e pretensioso também), expliquei que a primeira Assembléia das Nações Unidas em 1947, teve com seu primeiro orador o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, criando-se assim tradição que permanece até hoje.

Nosso diplomata foi figura importante no cenário mundial não somente durante a guerra (foi decisiva sua ação para que o Brasil apoiasse os Aliados), assim como no pós-guerra e na nova ordem mundial que daí se estabeleceu.

Em 1948, presidiu a segunda Assembléia Geral do órgão, coordenando as ações que culminaram com a criação do Estado de Israel.

As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial foram tamanhas que foi inexorável dentro de uma perspectiva histórica produzir um documento que falasse sobre aquilo que se entendia como sendo os inalienáveis direitos de uma pessoa por sua condição humana. Nascia assim a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Se por um lado o documento se demonstra utópico, por não tem força de lei, por se tratar de uma declaração, além de vislumbrar um ideal de justiça e paz, serve como norte nas relações internacionais além de referência pétrea daquilo que se pode ou não admitir num mundo que se pretende civilizado.

Foi enorme o legado de Osvaldo Aranha para a diplomacia brasileira.

Assim ao longo da história sempre ocupamos lugar de destaque, não somente por nossa liderança regional natural, não somente pela qualidade de nosso corpo diplomático de carreira, mas fundamentalmente por nossa vocação de nação plural e tolerante.

Nação de todas as cores, fruto da mais maravilhosa miscigenação o Brasil está (ou deveria) para o mundo como uma reserva de tolerância étnica, religiosa e de todas as formas possíveis de distinção que se possam aplicar as pessoas.

São inúmeros (quase que incontáveis) os tropeços do Governo Lula no campo da diplomacia.

Nos últimos capítulos vimos uma atrapalhada tentativa brasileira de se colocar na condição de interlocução junto ao isolado governo iraniano. Se essa ação não nos trouxe nenhum tipo de benefício, ao contrário nos colocou sob os holofotes mundiais numa perspectiva bastante questionável. Afinal, o Irã é um país que tem como chefe de governo alguém que contesta a veracidade do Holocausto, uma afronta a humanidade e a memória de milhões de vidas perdidas nos campos de concentração nazistas.

Diz a sabedoria popular: “me diga com quem andas que te direi quem és”.

Ao ter se colocado na condição de interlocução junto ao Irã, o governo brasileiro trouxe para si o ônus adicional de se posicionar a tudo aquilo que diz respeito a esse país, especialmente nos flagrantes desrespeitos aos direitos humanos.

Estarrecido, o mundo assiste incrédulo a possibilidade de que a iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani seja condenada a morrer apredejada. O motivo? Pouco importa.

Há que se perguntar haveria algum motivo ou mesmo falta tamanha que pudesse justificar tal atrocidade?

O pior crime que Sakineh tivesse cometido não daria ao governo iraniano tal direito.

Já que o Brasil se colocou na figura de seu presidente como um parceiro do Irã, nada mais natural que usar essa proximidade para interceder junto ao governo iraniano em defesa do direito à vida de Sakineh, certo?

Errado.

Num primeiro momento, após várias manifestações em cobrança, Lula fez um módico e acanhado pronunciamento num comício em Curitiba. Mais humanitário que político, em suas próprias palavras, Lula sugeriu que a pena fosse suspensa.

Lógico que o que se espera de um chefe de Estado é que esse aja como tal, assim foram inúmeras as críticas por uma fala mais formal de nosso presidente que se saiu com essas afirmações que dão bem a dimensão de nosso chefe de Estado:

- Sobre a questão dos direitos humanos no Irã, não conheço profundamente como funciona o país. Sei que cada país tem suas leis, Constituição, religião e nós, concordando ou não, precisamos aprender a respeitar o procedimento de cada país.

- Oferecemos asilo já que ela "está causando desconforto ao Irã".

Caro presidente respeito não se aprende, se conquista.

Eu nunca vou respeitar um governo que ignora um senso mínimo de civilidade, nunca aceitarei uma constituição ou lei que desrespeite o direito a vida e que ignore a condição humana que presume a igualdade entre homens sem nenhum tipo de distinção.

Aliás, sugiro ao nosso presidente rever suas amizades, uma vez que sua fala se quer mereceu mais do que uma lacônica nota do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã. Se o presidente iraniano não deu maior atenção à fala de Lula, muito menos seu ministro. Parece que para os iranianos Lula não é tão importante quanto imaginava ser...



Declaração Universal dos Direitos Humanos


Veja o vídeo da campanha em defesa do direito à vida de Sakineh








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