sexta-feira, 18 de junho de 2010

A justiça e a vingança.

Assistimos exaustivamente nos últimos dias o noticiário sobre o desaparecimento e morte da jovem advogada Mércia Nakashima.

Não há nada mais sofrido que a perda precoce de uma vida, nada mais triste que a dor de pais, que numa subversão da ordem natural das coisas, vivenciam a morte de um filho.

Em situações como essa a comoção pública é mais do que natural, ainda mais quando a situação é exposta quase que doentiamente na mídia. Haja sensacionalismo...

Existe uma grande diferença entre informar e formar opinião.

Em situações assim, garantido o inalienável direito de liberdade de expressão, esperando-se também o inexorável exercício da responsabilidade, deveria caber a imprensa o papel de passar ao público as informações disponíveis e não “elaborar” teorias, levantar possibilidades etc...

Nada mais demagógico e irresponsável que fazer entrevistas com populares para “dar voz ao povo que quer justiça”, ou qualquer outro jargão com esse conteúdo de apelo.

Se a opinião púbica tem direito à informação, a contrapartida é que essa seja gerada e veiculada de forma responsável.

Se a opinião pública espera que o crime seja desvendado e que sejam aplicadas as punições previstas na forma da lei, é imprescindível se distinguir justiça de vingança.

Nada, absolutamente nada, infelizmente trará de volta Mércia, mas nem por isso sua brutal morte pode ser esquecida. Ao contrário disso, todos os recursos devem ser empreendidos para a solução do caso e a exemplar condenação do ou dos culpados.

A contrapartida de que se faça justiça à memória de Mércia, de que se respeite a dor de seus familiares é que não podemos abrir mão da condição de sociedade civilizada, onde direitos mínimos sejam garantidos e o princípio da presunção da inocência seja pilar do direito.

Se existe evidências (e parece haver) contra o ex-namorado, Mizael Bispo, o fato concreto é que ao menos por enquanto não existe prova irrefutável de sua possível culpa e nem o mesmo foi submetido a julgamento. Assim até que haja prova e julgamento em contrário ele é inocente.

Até que haja um julgamento justo com amplo direito a defesa esse cidadão têm direitos mínimos garantidos que devem ser respeitados. Não por ser ele quem é, não por merecer um benefício qualquer, mas apenas e tão somente por sua condição de cidadão.

Vale lembrar que um dia desses qualquer, um de nós pode estar na situação contrária da família de Mércia, tendo um filho sendo acusado. Pergunto: quem crendo na inocência de um filho abriria mão de defendê-lo?

Insisto que não se trata de defender Mizael, hoje apontado pela polícia como sendo o principal suspeito pela morte de Mércia, trata-se de defender um princípio.

Opinião qualquer um pode ter, porém julgar o destino de uma vida é atribuição exclusiva da Justiça por intermédio de suas instâncias constituídas.

Chama minha especial atenção as manifestações precipitadas e passionais das autoridades responsáveis o que pode até mesmo colocar todo o processo de investigação sob questionamento de sua validade.

Creio que os profissionais envolvidos deveriam se preservar, limitando-se apenas e tão somente as investigações.

Razoável é que se espere pelos laudos técnicos, para de forma ponderada e acima de tudo responsável, se elabore um juízo de valor através da única ferramenta cabível: o inquérito policial.

Menos exposição, entrevistas e vaidades, mais trabalho, respeito e comedimento, a mim parece essa a fórmula mais adequada para a circunstância.

Que se apaguem os holofotes e se acendam as velas, oremos por Mércia e sua família.

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