quinta-feira, 9 de julho de 2009

O "o que" e o "como".


Vivemos nossas vidas repetindo rotinas diárias.

Acordar, ir ao banheiro, escovar os dentes etc...

Eventualmente mudamos a rotina, tem o dia da academia, do futebol com os amigos e assim vamos vivendo nossas vidas, dia após dia, sem nos dar conta do quanto pequenas coisas, corriqueiras até, podem ser de fato bênçãos que nos passam desapercebidas.

Vinha vivendo dias difíceis em minha vida. Como empreendedor, vida pessoal e profissional acabam se misturando, sofrendo uma simbiose, virando uma coisa só, caminhando juntas a par e passo. Andava meio baqueado diante das dificuldades. Até mesmo para o esporte vinha faltando ânimo. Nada como uma boa dose de “imprevisto” para mexer com isso.

Era mais uma manhã de terça. Eu nem desconfiava, mas em minutos iria começar um novo e doloroso capítulo de minha vida.

Havia acordado, colocado minha roupa de tênis e descia até a quadra para fazer mais uma aula. Quantas ainda seriam necessárias para eu poder dizer que de fato jogo tênis pensei como sempre faço antes de cada aula.

- Fala Mestre! Gritei ao avistar meu professor.

Foram minhas últimas palavras antes de resvalar com a ponta do pé num pedaço de madeira e...

Minha lembrança mais exata é tentar levantar e perceber que meu braço direito não acompanhou meu corpo, ficando inerte rente ao chão. Meu braço fez um “L”. Ao contrário. Digno de um desses vídeos do Youtube, daqueles que a gente vira o rosto de paúra.

Não sei ao certo se primeiro gritei de dor e desmaiei depois, ou se primeiro desmaiei e comecei a gritar depois, nem sei bem ao certo se desmaiei. Gritar, eu gritei, disso lembro bem.

Dor.

Nunca havia sentido nada igual, nada que pudesse ao menos servir como base de comparação.

Com muito esforço tentei me manter acordado. Graças a Deus, Chips, meu amigo e professor, estava lá. Não fosse ele...

Pegamos uma ripa de madeira (eu segurando minha mão e o Chips meu cotovelo) e a colocamos debaixo do meu braço, fixando-a com uma faixa.

Maria a empregada e um senhor que trabalhava na obra, ambos em choque, ajudaram no que seus limites permitiram. Para todos fica minha gratidão pelo socorro prestado.

Coube a minha esposa a dolorosa tarefa de superar os quilômetros que separavam nossa casa do Hospital Albert Einstein. Cada balançada do carro, mínima que fosse, me causava ainda mais dor. Quase que desmaiei durante o trajeto.

Depois de minutos que pareceram horas finalmente chegamos ao hospital.

MORFINA!

Bendito seja quem inventou a droga do Deus do sono, Morfeu.

Raio X. Ressonância. Sala de cirurgia. Anestesia. Recuperação. Cotovelo no lugar.

Esperar.

Dois meses aproximadamente me separam do dia em que definitivamente saberei a extensão de meu acidente. Até lá é esperar meu organismo trabalhar e ver do que ele é capaz em minha recuperação.

Desde uma recuperação total sem necessidade de mais nenhuma intervenção (possível, mas pouco provável) até uma funilaria geral (reconstrução de ligamentos, artroscopia e correção de fratura) tudo é possível.

Não escolhi ter que passar por isso, assim como tantas outras situações que a vida nos impõe, mas como vou passar por esse processo só vai depender de mim. Eis um valioso ensinamento de Alcéa, a terapeuta, que carrego comigo.

Que Deus me ilumine e me dê forças. Esses dias desde então não tem sido fáceis, desde um simples abotoar de botão, até a higiene pessoal, tudo antes tão simples, agora se mostram tarefas árduas de serem superadas, mas...

Faltam 57 dias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário