terça-feira, 30 de dezembro de 2008

São Silvestre: uma odisséia.

Lembro bem do dia em que uma vez decidido a
emagrecer saí em minha primeira caminhada.

Foi no condômínio onde moro.

Bastaram apenas 300 metros para que eu me desse conta de quão hercúleo seria conquistar aquele objetivo.

Aquele dia me marcou bastante. Acompanhado de minha esposa, Rô, e de meu filho mais novo, Kike, logo de cara me ressenti do esforço. Meu corpo parecia querer entrar em colapso mesmo que diante de um esforço que hoje me parece mínimo, mas que naquela época parecia ser o limite entre a vida e a morte.

Passado a frustração inicial que misturava sentimentos que iam desde a fragilidade até a humilhação, fiz daquele dia um marco em minha trajetória.

Salvo estar sendo traído por minha memória, acredito que naquele dia foi a primeira vez em que sonhei realizar uma São Silvestre. Nem sabia ao certo a distância, foi uma coisa assim de sonhar com o inatingível.

De caminhada em caminhada, foram surgindo os primeiros trotes. Chegou o dia então que pela primeira vez corri 3 km sem parar. Logo na sequência vieram os 6km e a marca que realmente te coloca na condição de corredor: os 10 km.

A essa altura a São Silvestre ainda era um sonho, mas agora um sonho possível de ser sonhado, algo que estava ali ao meu alcance, na distância da minha força de vontade, na distância da minha dedicação.

Treinos e mais treinos se sucederam: seria eu mesmo capaz de fazer uma São Silvestre? Eu conseguiria superar seus 15 seletivos quilômetros?

Correr, uma sucessão de saltos segundo meu mestre Jaspion, é ritmo, é desenvolver a capacidade de conhecer seus limites. É imprimir a sua corrida a "batida" ideal para alcançar seu objetivo, seja ele qual for, desde apenas completar a prova até bater seu recorde pessoal ou mesmo, para os atletas mais competitivos, conseguir uma colocação de destaque.

Se consegui emagrecer bastante, ser magro não é um objetivo palpável para quem tem um chassi como o meu. É claro que é tentador baixar seu tempo e é natural que todo corredor passe por essa fase. Uns ficam nela e sempre estão a procura de melhorar seu tempo, outros como no meu caso encontram o prazer no simples fato de correr. Talvez as contusões e o período de suspensão de atividades que enfrentei tenham me colocada no grupo dos que correm apenas por prazer, sem buscar seus limites extremos.

Foi então com esse objetivo que fui encarar minha primeira São Silvestre: acabar a corrida sem parar, correr do início ao fim.

Acostumado com o ritmo dos 10km, tive que aprender a correr com mais ponderação. Nessa primeira vez podia até sobrar um gás, mas faltar jamais. Quebrar nesse dia seria um desastre de danos irreparáveis. Essa bola dividida eu não podia perder.

Duas semanas antes dia 18.12.2005, fiz o percurso da prova tendo como companhia meu professor, mestre e amigo, Jaspion.

Era uma tarde de domingo. Foi um turbilhão de emoções desde o medo no início do trajeto, passando pela solidão que senti lá pelas bandas do memorial da América Latina, até a confiança que me tomou no pé da Brigadeiro.

Naquele instante pensei: Pai, você me deu forças, me toruxe até aqui, me leva até a Paulista.

Assim, passada a passada, fui subindo a Brigadeiro até avistar a Paulista.

Não acreditava, ali na minha frente, era só fazer aquela curva à direita e....era como ver um oásis no deserto. Desembestei a correr, naquela hora corri movido, não por meus músculos, não por minhas pernas, não por meus pulmões, apenas pelas minhas emoções.

Cheguei em frente ao prédio da Gazeta (chorando) com a certeza que seria capaz sim de realizar minha primeira São Silvestre. Agora era esperar o dia da corrida.

Dia 31.12.2005, dada a largada, passo a passo fui fazendo o planejado para conseguir concluir a prova. Linha de chegada. Fui tomado por uma sensação indescritível. Recebi naquele dia a medalha que dentre as tantas que já tenho continua e sempre será a mais importante de todas.

Amanhã novamente será dia de São Silvestre.

Será minha quarta vez, mas ainda assim sinto um frio na barriga. Ainda assim sei que ali na hora da largada, eu um dos 20.000 corredores que irão se superar, mais uma vez irei me emocionar, em especial com o público que nos dá carinho pelos 15 km de nosso desafio.

Um comentário:

  1. Parabns pela historia,essa superação se deve a
    união de disciplina X ritmo e um aluno atleta que gosta de desafios e sempre cumpre cada qual trabalhada dentro de suas qualidades.

    Silvio jaspion

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