sábado, 16 de janeiro de 2010

Rock in Rio, 25 anos.

"Todos numa direção
Uma só voz
Uma canção
Todos num só coração"

Com esse refrão centenas de milhares de jovens entoaram no mês de Janeiro de 1985 o hino do Rock in Rio, o primeiro, o que valeu, o que ficou para a História, assim com H maiúsculo.


Dias 19 e 20 de janeiro de 1985. Nunca vou esquecer.

Essas foram respectivamente as noites do Heavy Metal e do New Wave, os dias que estive lá.

No dia 19 vimos Baby e Pepeu num showzaço com solo de guitarra com brasileirinho e tudo mais. Pepeu definitivamente um dos maiores guitarristas do mundo: um virtuoso.

Depois o que parecia impossível: AC DC, Whitesnake, Scorpions e Ozzy numa só noite.

Erasmo Carlos iria abrir a noite, mas por prudência a organização do festival achou por bem não expor o tremendão para aquela moçada mais radical, aliás bem radical... 

Saímos, eu o Junior irmão de uma vida, o João (amigo meu) e o Ricardo (amigo do Jr.) na sexta-feira de noite da Rodoviária do Tiête. Chegamos pela manhã no Rio e fomos direto para a cidade do Rock em Jacarepaguá. Dos mais malucos roqueiros do mundo, até mesmo Hare Krishnas era possível se encontrar de tudo naquele zoo humano.

É importante entender que o Rock in Rio foi um marco não somente pela magnitude das estrelas que lá estiveram, algo inédito até então pelas bandas da América do Sul, mas também e principalmente pelo momento que o país vivia. Estávamos em gozo. A ditadura havia acabado e de alguma forma era como se afirmássemos para o mundo que passávamos a existir, era como se finalmente pudessem nos escutar.

Depois de tanta porrada, finalmente o refresco.

Liberdade!!!

Vale lembrar que pouco mais de três anos antes ali mesmo naquelas cercanias havia ocorrido o atentado do Riocentro exatamente durante um festival de MPB. Era esse o momento que vivíamos, o frescor de um tempo novo.

Era hora de curtir...


Apesar de gostar de todas as bandas da noite do Heavy Metal o que eu queria mesmo era ver era o B 52´s, tinha todos os LPs...office boy na época, economizava o que dava para poder comprar cada disco que era lançado. Meu guarda-roupa para o evento (assim como de meus amigos) era uma coisa mais surfista, bermuda camiseta da "OP" e tenis "iate". Não foi nada confortável perceber ao anoitecer que éramos legítimos representantes daquele 1% que não se vestia de preto da cabeça aos pés e ao contrário para piorar vestiamos cores cítricas (anos 80 fazer o que?).

A noite foi passando...cada puta show. Um aperitivo do show do Scorpions http://www.youtube.com/watch?v=sT_7uJdZ2wc&feature=related .

Num dado momento nos perdemos e aí dois a dois cada um para seu lado. Deu uma tremenda angústia, mas por um milagre, afinal era um mundo de gente andando para cima e para baixo, acabamos nos reencontrando. Foi bom demais a gente se abraçou e comemorou aquele reeencontro, era uma sensação difícil de explicar, mas que bom que enfim após algumas horas nosso pequeno exército paulista em solo carioca estava finalmente reagrupado.

Ponto alto da noite, chegou a hora do terror: Ozzy.

Se falava o diabo do roqueiro, que matava pintinho que comia morcego (tudo verdade). Nós na cara do gol...Quando Ozzy pisou no palco histeria geral. Nunca vi tanta vela e cruzes juntas...clima satânico mesmo e para piorar nós estávamos sendo literalmente esmagados pela massa. Cheguei mesmo a temer que algo de pior pudesse vir a acontecer com a gente. Lolózinho na mão...Naquela hora lembrei até das profecias de Nostradamus que falavam do fim do mundo por causa do festival.

De passinho em passinho fomos saindo de lado até que nos  desvencilhamos da multidão. Curtimos o show do Ozzy de longe, o que não fez com que aproveitássemos menos. Foi demais.

Dorminos na casa de uns parentes do Junior. Algumas horas e ovos fritos depois já estávamos de volta para a noite do New Wave.

A programação daquela noite: Barão Vermelho (ainda com Cazuza no vocal), Erasmo o Tremendão, Nina Hagen (uma roqueira alemã bem louca) com a participação do Supla, a inesquecível Blitz, B´52s e fechando a noite Yes.

O domingo dia 20 era o encerramento do festival e um clima de nostalgia já tomava conta da atmosfera da cidade do Rock. Já dava para percerber na ocasião que estávamos participando de algo que marcaria uma época.


O show do Barão foi demais e depois da partida de Cazuza, passou a ser ainda mais importante nas minhas memórias.

Erasmão mandou seu recado, mercecia respeito, mas não havia muita expectativa assim como em relação a Nina Hagen, a linda (e louca) garota de Berlin como dizia a música de Supla, que até fez um show bem divertido.

Só quem viveu intensamente os anos 80 sabe o que de fato foi viver aquela época. Pouca coisa pode simbolizar tanto aquele momento de desbunde como a Blitz. Evandro Mesquita e sua troupé tomavam conta das paradas de sucessos, com músicas como "Você não soube me amar", "Mais uma de amor - Geme-geme" etc...


Depois de um período de músicas que clamavam por liberdade, que precisavam enviar mensagens nas entrelinhas para driblar a censura, era hora de se divertir, hora de dar risada. Assim eram as músicas da Blitz: divertidas, despretensiosas e ingênuas.

O público cantava todas as músicas da Blitz, sem exceção, num coro de 200.000 pessoas e eu era uma delas. "Alo ouvinte, da minha da sua rádio Atividade, para quem vai viajar o tempo é bom sujeito a amores impossíveis num final feliz"...Ah! Que saudade!

O B´52s fez um show apoteótico. Pode ser percepção de super-fã, mas para mim foi essa a impressão que Fred Schneider e seu grupo deixaram naquela brilhante passagem pelo Brasil.

Com canções como Private Idaho, Planet Claire e tantas outras, as meninas com cabelos bolo-de-noiva colocaram o Rock in Rio para dançar. http://www.youtube.com/watch?v=QebVq3A3ADo&feature=related

Somente esse show já teria valido a pena todo o esforço financeiro e físico que representaram aqueles dois dias.

Exaustos deixamos o Rock in Rio no meio do show do Yes. Com hora marcada para voltar não dava para esperar aquela multidão se dispersar seriam horas que poderiam custar nossa volta para São Paulo.

Com barro pelas canelas, já que a Cidade do Rock foi erguida sobre um terreno pantanoso, chegamos a São Paulo. No metro indo para cara orgulhosos ostentávamos nossas camisetas: Rock in Rio - Eu fui.

Adendos:

James Taylor esquecido e deprimido em seu país natal, Estados Unidos, estava envolvido com drogas e recebeu com supresa o convite para tocar no Brasil. Segundo o próprio cantor, aquele coro de 200.000 pessoas cantando you´ve got a friend mudou sua vida

Tendo tocado anteriormente no Brasil em 1981, em São Paulo no Morumbi (meu pai não me deixou ir eu tinha só 13 anos...fiquei tão puto), os shows do Queen no Rock in Rio foram históricos e o Brasil cantou Love of my Life diante de um Fred Mercury hipnotizado.

O Rock in Rio colocou definitivamente o Paralamas do Sucesso no primeiro time do pop brasileiro.

Diferente das bandas estrangeiras com suas parafernálias o Paralamas subiu ao palco com a cara e a coragem. O Brasil se rendia aos óculos de Herbert Viana e aos seus parceiros. 

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