quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Boris Casoy é um jornalista que faz parte de um seleto grupo de profissionais do jornalismo no Brasil, para muitos o primeiro “âncora” da televisão brasileira.

Num país de muitos desmandos, Boris se notabilizou por seu bordão:

- Isso é uma vergonha!

Com esse slogan, Boris invadia os lares brasileiros dando vazão a nossa indignação diante cada novo escândalo que surgia.


Num país “Macunaíma”, tão carentes de figuras públicas exemplares, onde a falta de caráter até parece fazer parte de nosso DNA, mesmo sem pretender, Boris trouxe para si uma aura de paladino da justiça. Pobre Boris.

Marcelinho Carioca, jogador de futebol, sempre professou sua fé, porém seu comportamento em campo não tinha nada de religioso, assim as cobranças eram inevitáveis. Seu discurso religioso trazia para si uma expectativa que não era condizente com sua conduta. A esse fato convencionei chamar Síndrome de Marcelinho Carioca e é esse o mal que se abate sobre Boris Casoy.

Dois garis aparecem no telejornal apresentado por Boris desejando bons votos de ano novo.

Intervalo. Microfones acidentalmente abertos e eis que a indiscrição de Boris vai ao ar:

- “Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho".

Que horror...Todos ficaram sensibilizadíssimos, choveram críticas, notas foram proferidas, indignação geral.

Não pretendo aqui defender aquilo que parece ser indefensável, mas gostaria de chamar a atenção para o exagero que o fato está gerando.

Boris foi infeliz ao se referir aos profissionais da limpeza pública chamando-os de lixeiros. Uma perguntinha: quem nunca o fez?

Não parece ser contraditório alguém em condições tão adversas desejar votos de felicidades?

De forma infeliz e inadequada, Boris Casoy verbalizou essa contradição como se perguntasse a si mesmo: como é possível que esses camaradas, lixeiros, pobres, ainda possam desejar felicidades? Vale lembrar que cada um de nós tem um conceito próprio de felicidade, assim não me parece algo tão difícil de entender o estranhamento que aquela situação causou no jornalista.

Parece haver uma patrulha no ar, uma caça as bruxas, que ignora o fato de que se o jornalista foi infeliz (ele foi muito infeliz) ele o foi imaginando estar dispondo de seu direito inalienável a privacidade. Quem nunca falou em seu círculo íntimo algo que não o faria de público?

Que atire a primeira pedra aquele que nunca num momento específico, movido por esse ou aquele acontecimento, ou por um sentimento de ocasião não teve uma opinião ou impressão sobre um fato, que não necessariamente represente o conjunto de seus valores?

Seria tão bom que esse senso coletivo de indignação fosse extensivo a demais questões que povoam o cotidiano de nossos noticiários, mas infelizmente não é esse o caso. Ironicamente somos tolerantes com os calhordas, mas não perdoamos os erros das pessoas de bem.

Nesse episódio minha maior crítica ao jornalista diz respeito ao tom lacônico de seu pedido de desculpa.

Cometido o erro, o pedido de desculpa sem pudores, traria a questão de volta ao prumo em sua real dimensão.

Seria mais honesto o jornalista assumir que lhe chamou atenção o fato daquelas pessoas tão desafortunadas ainda assim serem capazes de desejar felicidades.

Seria mais humilde admitir, de forma aberta e clara, a infelicidade dos termos empregados e até mesmo o possível tom preconceituoso da opinião. Seria um gesto de grandeza admitir que talvez sua idéia de felicidade seja limitada pois estaria ligada a idéia do conforto material em detrimento a outros aspectos.

Boris errou como qualquer um poderia ter errado, ok, mas infelizmente pediu desculpas como qualquer um o faria.

Veja o link abaixo

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u673601.shtml

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