sábado, 22 de agosto de 2009

Um país acéfalo e sem vergonha.


Nasci no início da ditadura militar que durou minha infância e adolescência.

Minha vida adulta começou simultaneamente a democracia no Brasil. Modesta, dei minha contribuição militando no movimento estudantil secundarista, militância essa que custou muitos cabelos brancos ao meu saudoso pai.

Lembro, com orgulho, do Movimento das Diretas-Já que levou milhões de brasileiros as ruas pedindo por democracia, exigindo eleições para Presidente. Eu estava lá.

Além do movimento suprapartidário, toda a sociedade se fazia representar naquele momento.OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, ABI - Associação Brasileira de Imprensa e UNE - União Nacional dos Estudantes além de tantas outras instituições representavam a sociedade civil brasileira através de outro prisma que não o partidário.

Naquela ocasião, se havia uma representatividade política natural a uma sociedade por intermédio dos partidos políticos, havia também outro nível de organização representativa, manifesta por entidades da sociedade civil. Éramos capazes de nos organizarmos politicamente, mas também o éramos sobre a ótica social.

É possível que se pense que o grande escândalo do momento diga respeito às acusações que recaem sobre o ex-presidente José Sarney, hoje Presidente do Senado, mas será mesmo? Ledo engano.

É óbvio que a atual situação do Presidente do Senado empurre latrina abaixo qualquer senso de vergonha que possamos ter se é que temos algum senso de alguma coisa, seja lá o que for. Porém, o grande escândalo que assola o país é a acefalia da qual parecemos acometidos irreversivelmente.

Pior do que Sarney ter eventualmente tirado proveito indevido de sua posição como mandatário supremo do Poder Legislativo, é a total apatia da sociedade brasileira diante desse fato.

Se o cidadão José Sarney (mesmo não sendo um cidadão comum, pelo menos para o Presidente Lula – comum somos eu e você que trabalhamos e pagamos impostos) tem todo direito a ampla defesa, se tem para si o inalienável direito a presunção de sua inocência, na condição de Presidente do Congresso Nacional, assim como a mulher de César, não basta que seja honesto, ele deve aparentar tal.

Precisaria de uma vida para arrolar aqui todos os problemas que afligem o Brasil, temos muito a discutir, temos muito para avançar. Reformas Fiscal, Tributária e da Previdência, entre tantos outros assuntos, de forma que não podemos nos dar ao luxo de ver a mais alta casa legislativa do país inerte e dedicando o meu, o seu, o nosso tempo, discutindo a honestidade de quem quer que seja.

Tivesse o Senador José Sarney um pingo de espírito público ao primeiro questionamento de sua honestidade, esse se declararia impedido de permanecer na sua posição de Presidente do Senado, e com o legítimo título de Senador da República se defenderia de toda e qualquer acusação que sobre si recaísse. Atestada sua honestidade o homem público José Sarney novamente se colocaria a disposição do Brasil, para que se fosse o caso novamente se fizesse uso de seus préstimos.

Ao contrário disso, sua Excelência se prende ao cargo como se fora um urubu sobre um pedaço de carniça (que me perdoem pela comparação os admiradores da famigerada ave).

Pensando bem é isso mesmo, não passamos de um pedaço podre e fétido de um organismo agonizante. Não fosse assim, instituições como as citadas estariam arregimentando a sociedade civil para que ocupássemos as ruas num grito uníssono por vergonha.

Num país onde a União Nacional dos Estudantes é submissa a um governo que a patrocina através de estatais como a Petrobrás, como pensar em ter um pingo que seja de vergonha na cara.

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